Discursividades, materialidades e entremeios: dizeres e sentidos das artes visuais em espaços arquitetônicos na cidade de Maringá


resumo resumo

Guilherme Radi Dias
Renata Marcelle Lara



Sentidos do artístico no espaço significante da cidade

O espaço da cidade significa em meio a filiações a determinadas formações discursivas, que são entendidas como lugares “em que o dizer significa, em que as palavras se inscrevem para ter sentido: as palavras falam entre si nos homens que as falam” (ORLANDI, 2003, p.35). Nos estudos do real da cidade, esta é tomada como objeto de discurso, espaço simbólico, tendo a sua materialidade própria e as suas formas específicas de significar, partindo do princípio de que “a relação desse espaço com a linguagem e com os sujeitos falantes que o habitam é, dessa perspectiva, uma relação constitutiva” (ORLANDI, 2003, p.65, grifo da autora).

Ao propor a reflexão sobre ordem e organização no contexto da cidade, Orlandi (2003) afirma que a ordem é da instância do real da cidade, isto é, sua existência enquanto espaço que reclama sentido, que materializa significações, e o urbanismo compreendido como organização da cidade, pelo imaginário social. O real da cidade compreende, conforme Orlandi (1998 apud MARIANI, 1998, grifo da autora), “as situações em que irrompem, na cidade imaginária, una (grifo da autora), as contradições, os equívocos históricos que, ao fraturar as regularizações propostas (e impostas) pelo Aparelho do Estado, tocam no ‘nervo’ urbano”. Tratar do real da cidade é, portanto, considerar o imprevisível das formas de ocupação do espaço urbano, isto é, “mapear”, conforme a autora, o modo como os sujeitos, na posição de usuários do espaço citadino, circulam e imprimem suas marcas. O real da cidade, segundo a autora, representa a ordem citadina, e se manifesta em sua materialidade por meio dos flagrantes urbanos, gestos que dão corpo à/são corpo da cidade.

Segundo Mariani (1998), a cidade é espaço urbano de produção, disputa e circulação de sentidos, onde o confronto entre os sentidos produzidos por instâncias e em dimensões diversas não estão sempre visíveis. E o trabalho com o discurso urbano consiste em “concebê-lo como efeitos de sentidos resultantes das interações entre posições de sujeito distintas no espaço da cidade” (MARIANI, 1998, p.17).

Para Orlandi (2001), por força de um efeito do que chama de “vontade da totalidade”, o flagrante (os sentidos da cidade em movimento) é entendido como “fragmentário” (destaque da autora). Diante disso, expõe ainda que

O real da cidade des-organiza esse lugar totalizador e, obrigando ao movimento, nos disponibiliza para outra apreensão de sentidos. Daí a necessidade de um método como a Análise de Discurso para ir além desses efeitos de sentido e confrontar-se com o lugar em que esses sentidos fazem sentido, lugar em que o simbólico e o politico se articulam na produção desses efeitos. (ORLANDI, 2001. p.10)