servir apenas como mero lugar de passagem de veículos exemplifica a ação cristalizadora, o fato de que cada vez menos podem ser enxergadas as possibilidades de desvios, segundo arranjos possíveis ditados pelo urbanismo e regras que regem a cidade. Assim, ao provocamos uma desestruturação da norma vigente da relação de poder instituída (FOUCAULT, 2011), a qual define que a rua é espaço de circulação de carros, e não de pessoas, estamos redescobrindo possibilidades de ocupação e de interação com o espaço público.
Pela noção simondoniana de transindividuação a realidade pode ser percebida como uma relação de coexistências, como um processo permanente de construção de coerências internas cada vez maiores, capazes de atualizar-se a partir da relação com o meio (SIMONDON, 1958)[1]. Para ele, enxergar uma zona afetiva que constitui a relação é perceber as reentrâncias subjetivas capazes de efetuar uma modificação e de
[1] O filósofo apresenta ainda a existência de uma natureza pré individual: uma espécie de zona de possibilidades, na qual todos os objetivos contêm formas de reconfigurações infinitas que posteriormente darão concretude aos processos de individuação. Cada ser carrega em si o próprio princípio, mas somente pode colocá-lo em funcionamento por meio de uma operação com o meio.