FICA na rua: arte, cultura e poéticas de apropriação de espaço urbano


resumo resumo

Paulo Cezar Nunes Junior
Janir Coutinho Batista



servir apenas como mero lugar de passagem de veículos exemplifica a ação cristalizadora, o fato de que cada vez menos podem ser enxergadas as possibilidades de desvios, segundo arranjos possíveis ditados pelo urbanismo e regras que regem a cidade. Assim, ao provocamos uma desestruturação da norma vigente da relação de poder instituída (FOUCAULT, 2011), a qual define que a rua é espaço de circulação de carros, e não de pessoas, estamos redescobrindo possibilidades de ocupação e de interação com o espaço público.

Para Deleuze e Guattari (1997) o espaço não é um mero lugar topográfico, mas antes de tudo, constituído por expressões e ações que o formam. Ele é atravessado por uma intrincada rede de materialidades e afetos que, apropriados de forma expressiva, findam por constituir corpos, paisagens, lugares para viver. Estes lugares não pré-existem; é preciso organizar um espaço limitado e traçar um contorno (FERRACINNI et al., 2014, p.221).

Podemos dizer que há implícita neste processo uma operação que organiza o espaço e atua de acordo com um agenciamento desejado (DELEUZE, GUATTARI; 1997). Agenciamentos, definidos por Deleuze e Guattari (1997) como sendo o acoplamento de um conjunto de relações materiais e de signos que lhes correspondem, os quais destacam um aprisionamento de dadas relações imanentes a eles. No entanto, é possível traçar linhas de fuga, linhas de ruptura frente aos tensionamentos que tendem a fixar e criar o estancamento de determinadas experimentações.  Caminhar nesta direção é essencial para compreender uma noção de espaço produzida por uma complexa rede onde estão inscritos planos de experiências individuais e coletivas, os quais constituem-se por um processo expressivo e carregam em si possibilidades de traçar novos desenhos e novas cartografias do espaço.

Pela noção simondoniana de transindividuação a realidade pode ser percebida como uma relação de coexistências, como um processo permanente de construção de coerências internas cada vez maiores, capazes de atualizar-se a partir da relação com o meio (SIMONDON, 1958)[1]. Para ele, enxergar uma zona afetiva que constitui a relação é perceber as reentrâncias subjetivas capazes de efetuar uma modificação e de

 



[1] O filósofo apresenta ainda a existência de uma natureza pré individual: uma espécie de zona de possibilidades, na qual todos os objetivos contêm formas de reconfigurações infinitas que posteriormente darão concretude aos processos de individuação. Cada ser carrega em si o próprio princípio, mas somente pode colocá-lo em funcionamento por meio de uma operação com o meio.