Da relação sujeito, religião e estado: O discurso da liberdade e das letras na cidade
Eliana de Almeida
um recuo na história, buscaremoscompreender as relações de sentidos que sustentamessas narrativas de fundação da cidade de Iepê, definidas no jogo de/entre fronteiras discursivas distintas,bem como compreender os efeitos de sentido que produzem ao lado do templo presbiteriano,como demarcaçãona/da cidade.O excesso de dizeres em narrativas, acrescido da arquitetura do templo presbiteriano – diferenciado de outros templos presbiterianos de seu tempo – materializa-se como uma demarcação discursivaindiciadora da falta.
Para Foucault(1995), os estudos da história tradicional empreendiam-se namemorizaçãodos monumentos do passado para transformá-los em documentos, mas em nossos dias, a história nova transforma os documentos em monumentos. O conceito de monumento refere-se a uma postura arqueológica em relação aos discursos. À medida que o recorte de linguagem materializa saberes, os discursos que o constituem pelo não-dito, ignorados, desconstroem na sua superfície os efeitos ideológicos de sentidos que produz, assumindo o status de monumento, visto que atualiza na sua materialidade o passado e, ao mesmo tempo, projetao futuro pelo discurso.
Nesses termos, o templo presbiterianoserátomado como linguagem, como texto, assimcomo as narrativas, enquanto discurso, monumento, produzindosentidos referidos a um pré-construído, àmemória discursiva (ORLANDI,2007), que atualiza sentidos em suas diferenças materiais: a língua e a arquitetura. No que concerne aos efeitos do verbal sobre o não verbal, Orlandi (1995, p. 38)admite a Análise do Discurso restituir aofato de linguagem a sua complexidade e sua multiplicidade, buscando definir os caracteres que definem suas especificidades materiais. Nessa perspectiva as diferentes materialidades simbólicas significam-se em suas diferenças, como formulação de sentidos remetida à memória do discurso.
Para aAnálise do Discurso, o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia, no modo como a memória discursiva do dizero determina. Supomos assim que as narrativas e o templo não se signifiquem por si mesmos e enquanto tais, mas na sua relação com a história, cuja memória de dizeres se faz significarenquanto posições ideológicas.A propósito da ideologia, no que concerne ao material que recortamos, propomos retomarnosso trabalho[10]sobre oefeito santidade na hagiografia. Consideramos a construção de templos na tradição ocidentalcomo uma prática advindade costumes antigos,dentre os cristãosdos anos 70 a 90 d. C., de sacralizar lugares como marcos de contatos espirituais entre céu/terra, seja como marco de grandes