As ruas comerciais, o consumo e a vida social urbana: o universo dos ateliês da Rua Dias Ferreira


resumo resumo

Sílvia Borges Corrêa



de comunicação entre as pessoas, na qual os objetos atuam como mediadores ou indexadores desse processo interativo: os bens são comunicadores. Numa simples frase, “as mercadorias são boas para pensar” (Douglas & Isherwood, 2004, p. 108). Logo, servem para produzir sistemas classificatórios a partir dos quais os grupos sociais demarcam fronteiras e diferenças entre si.

 

Em vez de supor que os bens sejam em primeiro lugar necessários à subsistência e à exibição competitiva, suponhamos que sejam necessários para dar visibilidade e estabilidade às categorias da cultura. É prática etnográfica padrão supor que todas as posses materiais carreguem significação social e concentrar a parte principal da análise cultural em seu uso como comunicadores. (...) As posses materiais fornecem comida e abrigo, e isso deve ser entendido. Mas, ao mesmo tempo, é evidente que os bens têm outro uso importante: também estabelecem e mantêm relações sociais. (Douglas & Isherwood, 2004, p. 105)

 

Esqueçamos que as mercadorias são boas para comer, vestir e abrigar; esqueçamos sua utilidade e tentemos em seu lugar a ideia de que as mercadorias são boas para pensar: tratemo-las como um meio não verbal para a faculdade humana de criar. (Douglas & Isherwood, 2004, p. 108)

 

Sob essa perspectiva cultural, espaços de comércio e consumo são lugares nos quais e a partir dos quais é possível perceber e analisar especialmente uma das dimensões do consumo: a troca, ou seja, a comercialização – em seus mais variados aspectos. Apesar da existência de clássicos na literatura antropológica, tais como Malinowski (1976), com seu estudo sobre o kula nas Ilhas Trobriand, e Mauss (2001), com seu trabalho sobre o potlach entre tribos indígenas da América do Norte, que são exemplos de análises detalhadas sobre a dimensão social das trocas, nas atuais pesquisas brasileiras, de caráter antropológico, sobre o consumo, a troca tem se apresentado como um aspecto não muito estudado em detrimento de aspectos relacionados ao uso dos produtos e serviços. Há também que se ressaltar que a produção acadêmica nacional sobre espaços de consumo tende a privilegiar pesquisas sobre shopping centers (Cavedon & Lengler, 2002; Costa et al., 2000; Frúgoli Jr, 1992; Soares, 2000; Underhill, 2004). Especificamente sobre comércio de rua, o levantamento bibliográfico realizado apontou para a existência de poucos estudos no campo da Antropologia e da Sociologia, entre eles dois sobre a SAARA-Sociedade dos Amigos e das Adjacências da Rua da Alfândega (Barros, 2002; Cunha & Mello, s/d), região de comércio popular no centro do Rio de Janeiro e outros dois sobre ambulantes (Martineli, 2009; Barroso, 2008) – o primeiro sobre ambulantes das ruas de Ipanema, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, e o segundo sobre ambulantes da Rua Voluntários da Pátria, na cidade de Porto Alegre.