“No carnaval a fantasia é minha. O corpo é meu”: memória e rupturas feministas na folia


resumo resumo

Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



discursiva. É interessante observar como os corpos femininos estão apresentados com adereços de carnaval, mas sem a exposição da nudez e, por que não falar da mudez também; isso discursiviza um modo de dizer de si e de se colocar como mulher, qual seja, como aquela que brinca, se diverte e faz folia sem se deixar representar pela exibição do corpo nu. Isso marca uma ruptura com os sentidos naturalizados para o corpo da mulher, tão repetidos pela exposição midiática de pernas, glúteos e seios tal como promovido pelo discurso midiático.

Nos dizeres da Marcha, o homem que não respeitar isso “na delegacia da mulher vai parar. Na atualização de um dizer sobre a mulher, fica marcado que essa sabe de seu poder de denunciar atos violentos que venha a sofrer. A mulher da Marcha, que brinca carnaval, sabe que há instituições públicas – Delegacia da Mulher – que vai protegê-la, que vai ouvi-la, que vai punir homens violentos. A Marcha das Vadias de Recife busca atualizar sentidos para os atos violentos que as mulheres sofrem:

 

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Figura 3: Marcha das Vadias de Recife

https://www.facebook.com/MarchaDasVadiasRecife?ref=ts&fref=ts

 

Atitudes que a sociedade vê como naturais, principalmente em momentos festivos, como “passar a mão”, “puxar o cabelo”, “dedar”, “beijar forçado”, são colocadas pela Marcha das Vadias como crimes. A ruptura do ritual enunciado está nisso. O que a sociedade vê como “desculpa” é criminalizado pelo discurso da Marcha das Vadias. Além disso, o discurso da Marcha sustenta o empoderamento da mulher, seus desejos, o domínio sobre seu corpo, embora a sociedade silencie esses sentidos com atos de violência seja ou não no carnaval. Observamos ainda que o corpo passa a ser discursivizado como algo de que se é dono, ou seja, tal “propriedade” é particular e reclama a permissão da dona para ser manipulado ou tocado. Marcar as formas