Da relação sujeito, religião e estado: O discurso da liberdade e das letras na cidade


resumo resumo

Eliana de Almeida



acontecimentos ou como demarcação do corpo de um mártir[11], como vemos na pesca de um artesanato que se torna imagem de Nossa Senhora ou no aparecimento suposto de Maria, a mãe de Jesus, à menina Lúcia, em Fátima, Portugal, conforme a crença católica.

A basílica de Nossa senhora Aparecida no Brasil demarca-se enquanto lugar de contato entre os mundos temporal e espiritual na cidade de Aparecida do Norte. A narrativa conta que três pescadores pegaram no Rio Paraíba do Sul um artesanato, tomado como a imagem de Maria, a mãe de Jesus. Do mesmo modo, a construção da Capela de N. S. Fátima, em Portugal, advém como lugar sagrado pelo suposto aparecimento de Maria, mãe de Jesus, à menina Lúcia.

A construção de templos na tradição cristã advém ainda das práticas de visitar o túmulo de antepassados (pessoas exemplares da fé) para chorar o morto. Os restos mortais dos mártires eram cuidadosamente retirados dos locais de torturas e sepultados nas catacumbas. A partir desse momento, produz-se o efeito de confundir-se túmulo e altar, pois que as devoções e ritos nesses lugares vão construindo os sentidos do religioso e sacralizando espaços.

Desse modo, os túmulos passam a agregar no seu entorno um grande número de fieis, justificando com isso a tradição de construir templos. Como exemplo, temos a catacumba de Pedro, em Roma, cujo suposto túmulo está protegido no interior da suntuosa basílica de São Pedro, no Vaticano. A construção de templos demarca-se na história das práticas católicas como um espaço concreto de encontro entre o mundo temporal e o mundo espiritual (Orlandi, 1983), seja pela ocorrência de um grande fato, seja para honrar o nome de algum mártir da fé. Quanto mais elevadas as virtudes daquele que jaz no túmulo ou mais impressionante a experiência de aparecimento de Maria, maior o gesto de engrandecimento expresso na arquitetura material da construção e estética do templo.

A construção do templo católico de Iepê, pelo detalhe pontiagudo da torre e suas pilastras, etc, faz repetir, de algum modo, os sentidos dessa tradição mesma no espaço da cidade, além de repetir também a ordem estruturante das cidades, em que a arquitetura do templo católico se destaca, com certa regularidade. É na relação com esses sentidos que se repetem enquanto prática discursiva católica que o templo



[11] Fabrica de santos (Woodward, 1992).