FICA na rua: arte, cultura e poéticas de apropriação de espaço urbano


resumo resumo

Paulo Cezar Nunes Junior
Janir Coutinho Batista



Transformar a plataforma de um terminal rodoviário em palco de rock é colocar em prática aquilo que estamos discutindo desde o início do texto: o exercício de redescobrir a cidade, de dotar de potencialidades o espaço (seja ele urbano ou rural) pela apropriação, a partir da capacidade relacional e dos múltiplos usos que podem advir deste encontro.

A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik (2000) diz que o urbanismo modernista contribuiu para a perda da versatilidade das cidades, definindo para cada uma delas um lugar e uma missão separada e específica, provocando a diminuição das possibilidades e da quantidade de contatos e misturas de uso que caracterizavam a cidade multifuncional e mais pública. Este processo não só esvazia as possibilidades (que podem ser reestabelecidas pelas apropriações dos espaços públicos por meio de festivais de arte, segundo nosso caso), mas depõe contra o sentido primeiro das cidades, sua existência como nó, como cruzamentos de redes, de caminhos possíveis, de trocas, de informações.

Uma cidade tem mais ou menos urbanidade, mais ou menos multiplicidade de acordo com as possibilidades de encontros e de diversidade de uso dos espaços que ela consegue propor. Jacobs (2001) trata esta temática discorrendo sobre elementos básicos para a incrementação da vida no espaço público: a autora propõe, por exemplo, o alargamento das calçadas, o encurtamento das quadras e a diversidade de usos de um mesmo espaço para que a cidade seja dotada de maior quantidade de usos. Questões e estratégias concretas que suscitam encontros e fomentam trocas no espaço urbano, fazendo deste último um devir que deve ser experimentado fora da esfera individualizada vivenciada normalmente, a fim de que sejam percebidos outros usos além daqueles dados na forma objetiva.

 

Apropriações poéticas e novos usos do espaço urbano: experiências do FICA - Festival Integrado de Cultura e Arte

Há cerca de seis anos teve início o planejamento de ações para a produção de um festival de artes integradas, pensado para ocorrer principalmente em lugares públicos abertos como forma de promover diálogo e encontros entre sujeito e a cidade. Trata-se de uma tentativa de ocupação dos espaços públicos geralmente esvaziados, seja pelo discurso da segurança, seja pelas regras de conduta as quais restringem as multiplicidades de relações que ele pode apresentar (ROLNIK, 2000).