Da relação sujeito, religião e estado: O discurso da liberdade e das letras na cidade


resumo resumo

Eliana de Almeida



presbiteriano independente se significa como lugar de estranhamento e de contradição de sentidos.

Enquanto linguagem que materializa a contradição ideológica pelo discurso, o templo protestante em Iepê faz repetir da memória discursiva os sentidos católicos, na construção de um templo que se destaca na cidade, como marco da relação entre os planos temporal/espiritual e, ao mesmo tempo, propõe romper com essa ordem discursiva, pela edificação como tal de um templo não católico, um templo protestante. Ou seja, o templo não se propõe como marco de grandes acontecimentos e/ou encontros entre céu/terra, tampouco constroi-se sobre a tumba de um mártir da fé cristã. O templo projeta-se para Iepê enquanto um dizer sobre os sentidos da falta que constituem a cidade: a falta da igualdade de direitos e da liberdade de culto. Assim, pereniza-se como marco de conquista pelos sentidos, funcionando como um dizer que não se cessa de fazê-lo por um excesso indicativo de falta.

A materialização dos ideais de modernidade que demarcam os sentidos para Iepê, pondo a construção do templo como monumento (Foucault, 1995), projeta um passado que se atualiza e um futuro que se antecipa para a cidade. O passado atualiza no templo a memória histórica de dizeres sobre a querela fundadora da cidade entre católicos e protestantes ao mesmo tempo em que se projeta à posteridade como tal. Iepê significa-se assim o social das diferenças ideológicas entre concidadãos católicos e protestantes e, ao mesmo tempo, como espaço ético de consenso político conquistado pelos seus fundadores.

O templo faz significar no espaço da cidade as relações de poder representadas entre sujeito e Estado, funcionando em suas proporções materiais como metáfora da liberdade e igualdade de direitos. A construção do templo se dá como marco da presença do Estado vinculado à Igreja Católica – um Estado não laico que não assume os ideais republicamos e deixa para a sociedade o papel de administração do espaço urbano, logo, como marco de luta e conquista do povo pelo estabelecimento da liberdade de culto. A querela fundadora que culminou na impossibilidade de os protestantes enterrarem seus mortos e construírem escola para seus filhos em São Roque significa e demarca o espaço público em Iepê, no modo como a presença do Estado é convocada para estabelecer a liberdade religiosa como uma ordem discursiva outra.

A querela fundadora de Iepê situa-se ideologicamente à fronteira dos discursos reacionários da igreja e dos da modernidade. Esse Brasil inventado sob o signo da cruz