Dans cette intervention je propose de poser la question de la modification de la manière dont la ville s’écrit et se lit pour ses usagers et ses visiteurs, depuis que le numérique a pénétré l’ordinaire de la vie urbaine. La notion d’écrilecture proposée à l’origine par Pedro Barbosa (Barbosa 1996) pour la textualité numérique veut rendre compte de la coconstitution de l’écriture et de la lecture en régime numérique : l’usager urbain qui utilise par exemple une application pour évoluer dans la ville trace ses itinéraires en même temps qu’il lit les possibilités techniques ; lecture et écriture constituent un même geste sémiotique. À partir des six traits que j’attribue au discours numérique ou technodiscours, composition, délinéarisation, augmentation, relationalité, investigabilité et imprévisibilité (Paveau 2017), j’essaierai de montrer que le numérique engendre une écrilecture de la ville paradoxale : à la fois autonome et contrainte (le sujet urbain élabore librement une ville désirable à partir des contraintes fortes des programmes et des algorithmes, voir Allard 2015, Cardon 2015), solidaire et égoïste (les technologies informatiques augmentent les possibilités d’altruisme et de solidarité urbaine tout autant que d’égoïsme et d’individualisme, voir Auray 2011), sociabilisante et isolante (les programmes et applications urbaines ouvrent sur le lien social mais permettent en même temps de l’éviter, voir Coutant & Stend^ger 2011), habilitantes et (le numérique est un appui des révolutions et des protestations urbaines et en même temps un outil d’oppression et de dictature, voir Cardon 2010).

Références

Allard Laurence, 2015, « De l’hypertexte au “mobtexte” : les signes métissés de la culture mobile. Écrire quand on agit », in C. Angé (dir.), Les objets hypertextuels. Pratiques et usages hypermédiatiques, Londres, Iste Editions, p. 167-186.

Auray Nicolas, 2011, « Solidarités », Communications 88, p. 159-167.

Barbosa Pedro, 1996, A Ciberliteratura. Criação Literária e Computador, Lisboa, Cosmos.

Cardon Dominique, 2010, La démocratie Internet. Promesses et limites, Paris, Seuil.

Cardon Dominique, 2015, À quoi rêvent les algorithmes. Nos vies à l’heure des big data, Paris, Seuil.

Coutant Alexandre, Stenger Thomas (coord.), 2011, Ces réseaux numériques dits sociaux, Hermès 59.

Paveau Marie-Anne, 2017, L’analyse du discours numérique, Paris, Hermann.

Nosso objetivo é produzir a análise de acontecimentos de enunciação que se articulam na história dos sentidos da palavra capitalismo. Para isso partiremos de acontecimentos que constituíram inicialmente a palavra capitalista, que precede à constituição da palavra capitalismo, tal como ela funciona em textos decisivos a partir do século XIX. A análise se ocupará de acontecimentos de enunciação como: o do texto O que É Propriedade de Proudhon; o do Manifesto Comunista de Marx e Engels; o de O Capital de Marx; o de textos de estudiosos atuais que se dedicam ao capitalismo; o de textos de “agentes” do capitalismo, como George Soros.

Para estas análises procederemos por sondagens. Para cada acontecimento considerado será feita uma análise enunciativa da designação de palavras como capitalista, capital, capitalismo e outras correlacionadas. Isto nos possibilitará, sem sermos exaustivos, correlacionar acontecimentos que possam dar uma certa visão do movimento de sentidos que acompanha esta palavra e como seus sentidos são constituídos.

Dans l’espace public de la ville, graffiti et affiches publicitaires rivalisent. Sans doute ces dernières l’emportent aujourd’hui largement sur le plan de la quantité et de la vi-lisibilité urbaine. Mais l’espace vendu à la publicité n’est pas irréversiblement perdu pour l’expression culturelle non marchande. On connaît la pratique qui consiste à graffiter les publicités elles-mêmes. En modifiant le texte ou l’image de l’affiche, une voix clandestine détourne l’affiche de ses objectifs consuméristes. Et celui qui s’était acheté, pour quelques mètres carrés, le monopole de la parole n’a finalement pas le dernier mot.

Quelle énonciation produisent les ratures de la publicité ? Que peut dire la linguistique du texte écrit de ce piratage énonciatif ? et la génétique textuelle (qui s’intéresse d’ordinaire à la réécriture autographe de brouillons dont il s’agit de faire des œuvres) ?

Dans ces formes particulières d’écritures urbaines, le (pi)ratureur inscrit sa réponse au discours publicitaire dans le discours publicitaire lui-même. Pour étudier la dynamique du dialogue ainsi instauré et la textualité qui en résulte, trois angles seront privilégiés : i) les modalités formelles (graphiques et/ou verbales) de la réécriture ; ii) les modes de liages textuels entre, d’une part, le déjà écrit de la publicité et, d’autre part, le supprimé, le remplacé et l’ajouté du graffiteur ; et enfin iii) les modalités énonciatives de ce geste de réécriture allographe (qui s’y énonce ?).

Mon corpus sera constitué de publicités raturées observées et photographiées en Suisse romande durant l’année écoulée.

Jacques Lacan énonçait un jour: "L'inconscient, c'est la politique". A la suite de cette thèse, nous souhaiterions questionner ce qui, du point de vue de la psychanalyse, fonde le pouvoir du discours capitaliste à l’endroit de l’être parlant, plus précisément du sujet névrosé. C’est là un vaste sujet, sur lequel il y aurait beaucoup à dire. Nous nous limiterons ici à l'étude de quelques thèses de Lacan concernant ladite réussite de ce discours.

Nous nous arrêterons tout particulièrement sur la proposition suivante: « L’exploitation du désir, c’est la grande invention du discours capitaliste¹ ». Nous souhaiterions en effet préciser en quoi le discours capitaliste serait ainsi parvenu à une exploitation du désir, puisque Lacan voit là sa grande invention, et donc sa grande force. Cela nous conduira tout d'abord à préciser la logique du désir, et comment celle-ci s'articule et se distingue de la demande. Il y a en effet un fait constaté depuis toujours par les cliniciens : la dépendance du névrosé à la demande à (de) l’Autre. Le névrosé ne cesse de demander à l’Autre… ce qui lui manque. Pour autant, nous le savons aussi, aucune des réponses de l’Autre ne suffira jamais à le satisfaire. Au point que face à ce que l’Autre lui servira pour son plus grand bien, le sujet désirera toujours Autre chose. Le névrosé est donc un sujet qui, de structure, se trouvera divisé entre ce qu’il demande et ce qu’il désire. Ainsi embarrassé par son désir, Lacan montrera comment ce sujet demandera justement à l'Autre ce qu'il doit ou peu désirer. Nous montrerons alors comment le discours capitaliste exploite ce jeu du désir et de la demande qui définit la névrose, et de quelle façon ce discours pousse alors à la confusion entre objet du désir et objet de consommation.

Em “A linguagem e a experiência humana”, Emile Benveniste propõe tres maneiras de conceber o tempo conforme a experiência que se faz dele fora e dentro da linguagem: o tempo físico, o tempo crônico e o tempo linguístico. Entre as duas primeiras concepções de tempo e a terceira há a instancia de enunciação que não só torna possivel dizer o tempo, como criá-lo tendo a fala como eixo crucial de sustentação. De modo que qualquer possibilidade de colocação do acontecimento numa linha temporal é dada pela instância de fala em que um eu se constitui dirigindo-se a um tu, o destinatário de sua fala.

Mas há determinações de ordem histórica que forçam o retorno de uma experiência puramente física do tempo, nos termos definidos por Benveniste. Penso no ritmo das trocas verbais impedem uma velocidade que impede a instituição, na fala, da marcação entre um antes, um agora e um depois. Desta maneira é que o capitalismo institui uma relação outra com o tempo.

Daí proponho que a exigência de fazer os acontecimentos correrem o máximo possível numa temporalidade absoluta, conduz a jogos interenunciativos cujo ritmo apaga a possibilidade de dizer o tempo no aqui e agora de sua constituição na instância da fala. Para refletir sobre esta incidência do capitalismo nas modalidades de interenunciação que desenham espaços de encontros na urbanidade contemporânea, analiso um exemplar de fala performatizado na canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola. Há na partitura desta composição musical uma impossibilidade de manutenção do tempo na pulsação que deve reger a entrada das vozes replicando uma a outra. O elemento a destacar aí é a maneira como as articulações voais dentro da melodia da canção constitui remete ao espaço urbano tal como atravessado por injunções capitalistas atravessados o cruzamento das falas. Pontuo, nesses termos, a tensão entre o tempo em curso no presente da enunciação e o tempo a viver. O objetivo é investigar, na materialidade do jogo de vozes na canção escolhida certo efeito de reificação do presente tomado na perspectiva inesgotável da produtividade.

Considerando as intensas transformações que vem ocorrendo em todos os campos, em sintonia com o uso cada vez mais expandido dos dispositivos móveis de comunicação e informação via redes digitais, tentaremos cartografar alguns traços das novas subjetividades que estão se configurando. Assim, será examinada a tendência à construção de si na visibilidade das telas, que leva a performar em contato permanente com os outros e ao monitoramento de todos por todos. A conexão instantânea e sem pausa redefine os usos modernos do tempo e do espaço, complicando os limites do público e do privado. Outro fator problemático é a dispersão que esses novos modos de vida supõem e estimulam, bem como a sua compatibilidade em conflito com as instituições modernas como a escola, a fábrica e a família.

Considerando que os estudos discursivos efetuam um deslocamento que permite a passagem do dado (linguístico) para o fato (discursivo) (Orlandi, 1996) e que existem especificidades referentes ao funcionamento do digital, este trabalho busca deslocar a problemática relativa aos métodos Big Data de sua consideração a partir de uma compreensão “puramente” técnica para tomá-la como uma questão própria ao discurso e, mais especificamente, à questão do arquivo (Guilhaumou; Maldidier, 1994), seguindo a consideração de Dias (2015) sobre a necessidade de se pensar este conceito frente ao discurso digital. Diferentes métodos de Big Data são “aplicados” em diferentes contextos, tais como: planejamento de estratégia de marca, processamento e identificação de padrões de consumo, identificação e pareamento de usuários em rede sociais, etc. Especificamente, o presente trabalho busca observar os funcionamentos discursivos do uso de Big Data no campo da Saúde, especialmente na Epidemiologia e na Medicina Personalizada. De modo geral, seja qual for o campo, essas “aplicações” de Big Data têm como ponto comum o objetivo de “transformar dados em ação”, por meio da geração do que frequentemente denominam como “insights”, leituras que resultam de uma análise de dados. Esta análise de dados, por sua vez, tem como suporte um software que elabora algoritmos que “respondem” aos dados, ordenando-os e propondo a identificação de padrões. Interessa ainda, neste trabalho, compreender o modo de significar as “falhas”, que levam ao que é denominado “associação espúria”. Assim, busca-se analisar, discursivamente, técnicas e fundamentos de coleta e processamento de dados, presentes em procedimentos como data scraper e data miner, pensando-os na sua relação com a escritura e com os gestos de leituras próprios do discurso digital e da memória metálica (Orlandi, 2006), bem como na sua relação com o real da língua (equívoco) e o da história (contradição). Por fim, espera-se que, ao buscar compreender a relação entre discurso e tecnologia digital na prescrição de normatividade e na administração da vida (Canguilhem, 2012), a pesquisa contribua com o campo mais amplo no qual se inscreve e que diz respeito aos modos de subjetivação e aos processos de identificação na atualidade.

Nesta fala busco refletir, a partir de minhas experiências etnográficas com a produção de conhecimento a partir de tecnologias digitais, sobre as particularidades e deslocamentos presentes nessas formas de produção científica. Com o foco na produção de evidências na ciência busco debater de que maneiras o uso intensivo de tecnologias digitais está potencialmente deslocando, alterando, ou reconfigurando as formas de produção de conhecimento. Tenho como foco a produção de verdades sobre o corpo, mas buscarei mencionar também a produção de verdades sobre o território, foco também das minhas pesquisas recentes. Tanto em um caso quanto o outro, percebe-se um investimento cada vez maior no uso de tecnologias digitais em detrimento da experiência direta no campo, da observação direta das formas e no contato direto com o empírico. Tal contato, cada vez mais, ocorre mediado por imagens, modelos computacionais e linhas de código que buscam não só decifrar determinadas verdades, mas produzir formas de compreensão que sejam cada vez mais calculáveis, manipuláveis matematicamente, modeláveis a fim de se capturar futuros possíveis. A fim de buscar uma reflexão comparativa, discuto brevemente o teatro anatômico renascentista, uma prática de conhecimento do corpo nos primórdios da ciência moderna. Nos teatros anatômicos, nos primórdios da ciência moderna, instauram-se rituais de produção de evidência fundadas na observação (em detrimento do uso dos livros clássicos, como os de Galeno). Estaríamos agora vivenciando um momento semelhante, onde a ciência está a construir novas formas de produção de verdade? Qual o papel do digital nesses processos? Busca-se comentar, portanto, sobre os modos pelos quais a multiplicação de visualizações digitais atua na produção de conhecimento. Conclui-se que, contemporaneamente, a produção de saberes privilegia sobremaneira a validação de códigos e a modelagem de processos (biológicos e outros), nos quais se busca intervir. Busco aqui, dessa forma, ajudar a desvendar os sentidos da circulação de imagens, dados e teorias que unem corpos materiais, técnicas de visualização e cientistas, possibilitando, desse modo, a produção de verdades sobre o mundo.