Revista Rua


O "progresso" e a significação da sociedade em alguns dos primeiros dicionários monolíngües brasileiros
The "progress" and the significance of society in some of the first monolingual Brazilians dictionaries

Rosimar Regina de Oliveira

Ainda no que se refere ao dicionário como lugar de observação dos sentidos Elias de Oliveira (2006, p. 18), retomando Auroux (1992), diz que “ao descrever as línguas, os dicionários (e as gramáticas) produzem um prolongamento do saber linguístico do falante, que não apenas o estende, mas o transforma”. Segundo a autora, essa transformação do saber linguístico do falante pelos dicionários é política, pois produz a afirmação de um saber com efeito de normatividade sobre a língua e estabelece as possibilidades de pertencimento daqueles que dominam essa língua e de exclusão dos que não a dominam. Conforme Guimarães (2002, p. 17), enunciar é uma prática política na medida em que o político é a contradição que instala o conflito no centro do dizer, “ele se constitui pela contradição entre a normatividade das instituições sociais que organizam desigualmente o real e a afirmação de pertencimento dos não incluídos”. 
Os dicionários selecionados fazem parte da história da lexicografia brasileira[1]. Eles foram produzidos no século posterior à independência do Estado brasileiro, em um momento de produção em que se objetivava legitimar a língua nacional e, desse modo, marcar o lugar da nação brasileira enquanto independente.   
O momento, por volta das décadas de 1930 e 1940, em que esses dicionários foram produzidos, é marcado por muitos embates, propostas e transformações no Estado brasileiro, em que ocorre a consolidação da República Nova no Brasil. Entre outros movimentos sociopolíticos, tem destaque nesse momento a “marcha para o Oeste”, que foi uma proposta do governo Getúlio Vargas por volta de 1939, e tinha como objetivo a ““ocupação” das terras do Centro-Oeste do Brasil[2]”. Essa proposta tem grande ênfase na enunciação do Estado e ganha destaque na imprensa brasileira, especialmente na mato-grossense. Esses discursos enfatizam que a “marcha para o Oeste” é uma forma de progresso para o país.  De acordo com essa proposta, o país precisa progredir ocupando seus próprios espaços em um movimento de “colonização” das regiões mais afastadas, especialmente do Oeste.


[7] O Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa é considerado o primeiro monolíngue brasileiro (1938), seguido pelo Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, organizado por Laudelino Freire (1939); o Dicionário da Língua Portuguêsa da Academia Brasileira de Letras, organizado por Antenor Nascentes (1964-1967), tem sua importância especialmente por ser atribuído à Academia Brasileira de Letras. 
[8] Essa questão pode ser melhor compreendida em Oliveira (2007).