Revista Rua


Sentidos do/no corpo interpelado pelo câncer de mama
Senses of / in nobody challenged by breast cancer

Lívia Fabiana Saço e Eliana Lúcia Ferreira

Observamos que a mãe significa sua função/imagem de proteção desmoronando para o filho, sendo esse também o processo que ela está vivenciando, formando-se um duplo desmoronamento, dela e para ela, na resistência. Esse processo pode servir como sentido e motivação para o enfrentamento e suporte para a readaptação de sua posição social face à magnitude da identidade do ser mulher.
O amparo e a proteção, nesse momento de vida, são essenciais para a confiança e força na caminhada árdua que se faz por toda a trajetória do câncer. Visando ao retorno do espaço, papéis e atividades, o suporte presente nos familiares, amigos, bem como nas pessoas próximas, ajudará a mulher a se sentir mais integrada, aceita, atuante, em uma atitude menos passiva e de menor dependência (CARDOSO, 2009), como se pode verificar nos seguintes recortes:
 
Meus irmãos e sobrinhos me dão muita coragem (S19);
 
Tenho muito apoio familiar, meu marido é maravilhoso (S8);
 
[...] meu marido, amigos, vizinhos e médicos me ajudaram, você se sente amparada (S16).
 
Todas essas questões afetam, diretamente, a relação corpo/trabalho, capacidade/(in)capacidade, produtividade/(in)produtividade e, devido à funcionalidade do membro superior apresentar-se comprometida, como já visto na primeira parte desta pesquisa, essa debilidade acarreta em alterações funcionais, comprometendo os indivíduos em sua posição de independência, e estes vão se sentir mais vulneráveis, em uma posição mais “paciente” da vida (CARDOSO, 2009).
Este processo de significação está presente nos próximos recortes discursivos das entrevistas em que a relação com o trabalho, a previdência do Estado e os cuidados domésticos estão em embate:
 
(...) O INSS já me liberou e o meu emprego não quer me aceitar, pois eu ainda estou fazendo fisioterapia, estou achando que estão acontecendo coisas ruins também (...) em relação ao tratamento (...) (S10).
 
(...) No momento da doença, eu estava doente e não falei nada para ninguém (...) e eles (soluço) me mandaram embora (...) (S10).
 
(...) Posso ser sincera?! Esse dinheiro aí é o que mais quero e voltar pra casa e cuidar do meu marido, eu já fiquei muito. Pegando esse dinheiro, eu ia ajudar minha irmã e voltar para casa, mas não vou abandonar aqui (S15).
 
(...) depois da cirurgia interferiu muito no meu trabalho, não posso pegar peso, andar muito, sinto muita dor e não posso fazer quase nada (S23).
 
(...) muita coisa que eu fazia eu não posso fazer por causa do braço, do caroço não posso pegar peso, eu tinha atividade mais corrida e agora tem que ser mais devagar, isso que mudou (S1).