Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

com o ideológico, com o inconsciente e com o histórico. Nesta possibilidade de enxergar outras formas materiais significantes, produzimos, na/pela ordem do discurso, sentidos. É na relação com a sua exterioridade que passamos a nelas pensar. Essa imagem é tanto um operador de memória social, o qual estoca um saber e o restitui tanto quanto um acontecimento, como nos pontuou Davallon, anteriormente referido, quanto faz parte do funcionamento de uma memória discursiva, como nos explicou Orlandi, acrescentando a característica da sua não transparência. É através dessa imagem que sabemos desse imigrante – imigrante italiano na Quarta Colônia que quer significar-se, que quer pertencer, que quer delimitar/marcar território, da sua posição sujeito.  Ele ocupa duplamente, contraditoriamente, um espaço público: o espaço geográfico de beira de estrada (marginal) e um espaço que é do poder público (central), o de levar água a quem dela precisa, sejam homens, sejam animais. Além disso, a memória oral coletiva dá conta de que, no lugar da fotografia que aparece no monumento (reiteradamente atribuída a Getúlio Vargas, a qual, até o momento, não conseguimos comprovar), havia uma placa escrita em língua italiana, para também, pela língua, ser feita a homenagem. Tal placa, antes de ser colocada, em seu lugar a foto de Getúlio Vargas, “desaparece” (conforme atesta a foto nº. 1). E há, no topo, a imagem de Santo Isidoro, imagem referida ao agricultor, ao lavrador, na/pela Igreja Católica – a que a maioria dos imigrantes se vinculava. Assim está o imigrante, social e historicamente simbolizado, ideologicamente constituído: no alimento e no trabalho, sobrevivência; na língua e na fé, a identidade, em um território previamente determinado: território geográfico, Quarta Colônia; território social: trabalhador. Mas a linguagem não é transparente, há discursos que se atravessam, mostrando um sujeito dividido: quem construiu e o que representa, se se coloca no poder de dizer do seu discurso o de todos os outros?  Além disso, nas suas escolhas está a presença do político, no próprio ato metafórico de (se) simbolizar. Não seriam possíveis metáforas, monumentos, imagens outras?
Tal fotografia também traz a memória de um outro acontecimento: a interdição da língua italiana quando do Estado Novo (1937-1945). Novamente, não só a ausência da placa atesta tal acontecimento, como a memória coletiva também o referenda: ao produzir discursos outros, a ausência da placa alusiva ao cinquentenário da imigração diz da necessidade de sua retirada; outros discursos, da sua ocultação, do não saber – até hoje – onde está, uma vez que foi “enterrada” para que ninguém fosse vítima da