Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

memória, também define como esta deve ser entendida. Para o autor, ela não pode ser apreendida como memória individual, “mas nos sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social inscrita em práticas, da memória construída pelo historiador” (Ibid., p. 49-50). Além disso, memória
 
[...] não poderia ser concebida como uma esfera plena, cujas bordas seriam transcendentais históricos e cujo conteúdo seria um sentido homogêneo, acumulado ao modo de um reservatório: é necessariamente um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização... Um espaço de desdobramentos, réplicas, polêmicas e contra-discursos (PÊCHEUX, 2007 [1983], p. 56).
 
Pêcheux (2008 [1983], p. 53) considera que sempre haveria um jogo de forças na memória, sob o choque do acontecimento: ora um jogo que visa manter uma regularização pré-existente com os implícitos que veicula, trabalhando com a estabilização e a integração do acontecimento até a sua eventual dissolução, ora o jogo de forças de uma “desregulação” que perturbaria a rede dos “implícitos”. No entanto, explica ainda que há uma fragilidade no processo de inscrição do acontecimento no espaço da memória, uma dupla forma-limite: “o acontecimento que escapa à inscrição, que não chega a se inscrever; o acontecimento que é absorvido na memória, como se não tivesse ocorrido” (PÊCHEUX, 2007 [1983], p. 50). Nesses processos, entendemos a relação entre sujeito e inconsciente e sujeito e ideologia, uma vez que a língua é o lugar onde se materializam as leituras que esse mesmo sujeito faz do “real”, filtrando-o, direcionando-o, recortando-o, construindo-o, refazendo-o. A partir disso é possível identificar a tomada de posição de um determinado sujeito. Além disso, pode a memória ser saturada, pode também ser lacunar, com eclipses, segundo Courtine (1999); todavia, Pêcheux (2008 [1983], p. 56) acentua a “marca do real histórico como remissão necessária ao outro exterior, quer dizer, ao real histórico como causa do fato de que nenhuma memória pode ser um frasco sem exterior”.
 
a)    Por outra possibilidade de resposta
 
Isso nos leva a considerar que estamos diante de outra possibilidade de resposta à nossa questão inicial: a ressignificação das noções de história e memória. Portanto, “compreender os modos de funcionamento da história/memória na produção dos sentidos observáveis nas relações entre diferentes práticas sociais” (PETRI, 2010, p. 67)