Revista Rua


Linguagem e Conhecimento: Produção e Circulação da Ciência
Production and Circulation of the Science

Eduardo Guimarães

2.1 O ESTADO E A CONSTITUIÇÃO DA POLÍTICA COMO NORMA
 
            Para apresentar a questão, vou tomar, como exemplo, um enunciado do Documento Ciência e Tecnologia no Governo Federal, do Ministério da Ciência e Tecnologia de 1996[2]:
 
O relato das atividades de C&T e de suas relações com as políticas públicas setoriais foi orientado por uma abordagem sistêmica, segundo os âmbitos político-normativo, estratégico e operacional da organização federal de C&T, explorando as suas dimensões política, econômica, social, institucional e estratégica, além de conter uma leitura da dinâmica da reação e da apropriação econômica e social de conhecimentos técnico-científicos no País (C&T, 1996: 9).
 
 
            A interpretação que o documento faz do político no domínio das políticas públicas o apresenta claramente como normativo. O próprio texto enuncia seu caráter político-normativo, de tal modo que “normativo” funciona na composição da expressão como uma determinação do sentido de político. Deste modo o sentido do político para o Estado se configura no campo do estabelecimento dos procedimentos regulados e homogeneizadores. Do nosso ponto de vista, o político não se reduz a isso, ele se caracteriza, exatamente, pelo dissenso, pela enunciação, no interior do que formula uma exclusão, daquilo mesmo que é excluído.
            As formulações como esta que tomamos como exemplo, acima, muito próprias dos organismos de Estado, reduzem, então, o político ao diretivo e trabalham o esquecimento do político. A palavra, funcionando sobre uma equivocidade, apaga o político ao designar, e o pratica ao formular. Nos dizeres do Estado, o sentido normativo (diretivo) recobre o funcionamento da palavra como se ela não funcionasse com essa equivocidade. A palavra “política” significa assim, mesmo quando o nega, o próprio do político.
 
2.2 DIVULGAÇÃO: CIÊNCIAS E CIÊNCIAS
 
            Falar de divulgação é pensar de modo específico um dos modos de circulação do conhecimento, como está no Quadro 1 do início. Por outro lado devemos pensar que a


[2] Uma análise deste enunciado eu a apresentei no texto “A Ciência entre as Políticas Científicas e a Mídia” em GUIMARÃES, 2001. Faço reflexões relacionadas também em GUIMARÃES, 2000.