Revista Rua


Da parede ao corpo social: a carne que não satisfaz
From the Wall to the Social Body: the Meat Doesn't Satisfy

Gesualda dos Santos Rasia

SOBRE COMO SENTIDOS SE CONSTITUEM
 
Quando se está no campo teórico da AD, o foco do que o texto/enunciado/autor quis dizer desloca-se para a reconstituição das condições que produzem/produziram uns sentidos e não outros, o que está diretamente entrelaçado às condições de leitura de um determinado enunciado/texto. Falar das condições de produção de um enunciado é reportar a sua historicidade, ou, em outras palavras, às diferentes injunções para sua interpretação. Tais injunções têm a ver com os lugares sociais, as posições a partir das quais se diz e/ou se lê. Vale lembrar a afirmação já antológica de Pêcheux, de que “As palavras, expressões, proposições etc. adquirem sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam (PÊCHEUX, 1988: 160).
Inscrever-se em determinadas posições implica estar identificado com um conjunto de saberes e não com outros, segundo os domínios recobertos por diferentes formações discursivas (FDs), as quais regulam o que pode/deve/convém ou não ser dito a partir de um determinado lugar. Grãos do discurso, assim definidos por Foucault (2000), os enunciados ora em causa são pontos que reportam a totalidades mais amplas, a intrincamentos múltiplos, a germinações do novo, inclusive. O mesmo autor afirma que

Uma formação discursiva será individualizada se se puder definir o sistema de formação das diferentes estratégias que nela se desenrolam; em outros termos, se se puder mostrar como todas derivam (malgrado sua diversidade por vezes extrema, malgrado sua dispersão no tempo) de um mesmo jogo de relações (FOUCAULT, 1969: 75).
 
A condição para a configuração de uma FD, a partir de Foucault, é, então, o fato de os enunciados encontrarem-se filiados a redes nas quais se repetem sob condições estritas (op.cit.: 121). O autor aponta também o fato de o enunciado ser, ao mesmo tempo, objeto entre os que os homens produzem, manipulam, utilizam, transformam, trocam, combinam, decompõem e recompõem, eventualmente, destroem (op.cit.).
Em releitura que Courtine (1981) faz de Foucault, o autor sublinha a separação operada por este último, na tomada do enunciado, circunscrevendo-o à relação materialidade da língua/materialidade do discurso, porém, sem articular essas duas instâncias.  Contudo, segundo Courtine, é de Foucault o tributo de situar o enunciado