Por este quadro podemos considerar a circulação do conhecimento como um dos elementos da constituição do sentido da ciência e da tecnologia na nossa sociedade cuja organização política é a do estado moderno.
Quero neste ponto frisar, simplesmente, como o modo de circulação é parte de uma prática fortemente dirigida por um aspecto das políticas públicas (a política científica) que se constitui por uma tensão constante entre Estado de um lado e de outro os cientistas, a sociedade e a mídia, numa relação, entre estes últimos, que não é de simples aliança, mas também de tensão constante. Isto é, o modo de circulação se relaciona, de algum modo, com as políticas que buscam definir as direções ou as condições das políticas científicas.
1 POLÍTICA CIENTÍFICA
Quero me deter mais de perto neste aspecto do funcionamento das políticas científicas. Falar de política científica é falar de algum tipo de controle do que se deve ou não pesquisar. Ou, dito de forma talvez mais branda, do que é mais necessário pesquisar. Assim, falar de política científica é colocar em cena uma discussão sobre a independência da ciência e do cientista. Ou, em outros termos, o que pode ser tomado como elemento que conforma a ação do cientista.
Esta questão é tão menos trivial quando levamos em conta que, de modos diferentes em diferentes épocas, os cientistas consideram que eles só devem ser orientados pelo próprio campo da pesquisa e pelo interesse de estabelecer conhecimento, ou seja, verdades.
Quero retomar aqui, tal como fiz em trabalhos anteriores, algumas colocações de Hobsbawn. Em A Era dos Extremos, Hobsbawn (1994), ao fazer uma história da ciência, notadamente das ciências naturais, nos mostra como, em vários momentos, os cientistas, no século XX, se viam desobrigados de justificar sua participação em projetos de pesquisa ou de justificar seus interesses, independentemente de seus resultados sobre o mundo. E neste percurso ele nos diz: “...ao contrário das trincheiras avançadas das ciências da vida, a principal fortaleza e de pesquisa pura nas ciências ‘pesadas’ pouco foi perturbada por tais franco-atiradores até tornar-se evidente, na década de 1970, que não se podia divorciar a pesquisa das conseqüências sociais das tecnologias que ela agora, e quase imediatamente, gerava” (HOBSBAWN, 1994: 534).