Ao que ele acresce: “O que estava em causa agora não era a busca da verdade, mas a impossibilidade de separá-la de suas condições e conseqüências” (ibid.: 535).
Ou seja, passa a fazer parte da questão científica não só produzir conhecimento, mas saber que sua produção não é inseparável daquilo que o tornou possível nem do que passa a poder ocorrer ou ocorre como uma decorrência quase necessária.
Nas condições históricas contemporâneas o próprio campo da ciência se coloca a questão de seus limites. E aqui gostaria de trazer duas questões colocadas também por Hobsbawn. A primeira delas: “Como sabiam todos os cientistas, a pesquisa científica não era ilimitada e livre, quando nada porque exigia recursos que eram limitados. A questão não era se alguém devia dizer aos pesquisadores o que fazer, mas quem impunha esses limites e orientações, e por quais critérios” (ibid.: 535). Ou seja, quem deve formular e realizar políticas científicas e por que critérios? E esta questão toma pelo menos dois modos de realização, aquela que tem sido nomeada por “demanda espontânea”, de um lado, e aquela que tem sido nomeada por “induzida”, através de programas específicos de agentes de fomento. Este debate está representado no Quadro 1 acima, na sua parte superior, em torno da expressão “política científica”.
Esta questão está articulada no texto de Hobsbawn a uma outra, a do caráter público da ciência, que pode ser entendida como organizada pelo Estado ou como organizada com objetividade e visibilidade pública.
2 POLÍTICAS CIENTÍFICAS: ESTADO, MÍDIA, SOCIEDADE
O que acabo de apresentar realça a relação da produção científica e as políticas de Estado de um lado, a mídia e a sociedade de outro. Tomamos, assim, a sociedade dividida entre os pesquisadores, o público e a mídia, como atores que têm seus papéis específicos neste processo.
A observação das políticas científicas dos organismos de Estado nos dá as condições de pensar, do ponto de vista da produção de conhecimento, o processo pelo qual a ação do Estado faz parte da identificação dos pesquisadores enquanto tal, e em que medida os procedimentos de financiamento da pesquisa fazem parte de sua produção como uma exterioridade que se constitui no interior da ciência[1].
[1] Sobre estes aspectos é interessante pensar sobre a responsabilidade do Estado em face dos gestos de interpretação da mídia, como indica Orlandi. Sobre os gestos de interpretação, ver ORLANDI ,1966.