entre as ciências do homem e as ciências tout court, tendo as primeiras a pretensão invencível de fundar as segundas, que sem cessar são obrigadas a procurar seu próprio fundamento, a justificação de seu método e a purificação de sua história, contra o “psicologismo”, contra o “sociologismo”, contra o “historicismo”; e a que forma o contínuo debate entre a Filosofia que objeta às Ciências Humanas a ingenuidade com a qual elas procuram fundar-se a si mesmas, Ciências Humanas que reivindicam como seu próprio objeto o que teria outrora constituído o domínio da Filosofia (ibid.: 356-357).
Observamos, então, que o domínio do conhecimento funciona com uma divisão interna importante que afeta sua representação na sociedade e seu sentido enquanto produtor de conhecimento. E, nesta medida, esta divisão afeta o próprio modo como o conhecimento circula na relação que envolve a sociedade como um todo e não simplesmente os grupos sociais destinados a esta produção (os cientistas e as ciências).
CONCLUSÃO
Os modos de o conhecimento se significar estão ligados não a ações específicas de algum segmento da sociedade ou do governo, mas faz parte da história em geral e da história do conhecimento de modo específico. E um aspecto importante aqui é que o modo como a divulgação científica se faz hoje, pela proeminência da ciência na sociedade contemporânea, acaba por constituir o povo como destinatário do conhecimento científico e tecnológico (através de seções em jornais e revistas ou de publicações específicas de divulgação científica, entre elas as eletrônicas). E assim acaba por articular o povo como um partícipe do processo de um modo mais específico, e não só como mero espectador e beneficiário.
Como a mídia está diretamente articulada com um certo tipo de significação do que seja a ciência hoje, ela tende a manter as condições do discurso científico estabelecido e legitima a normatividade do Estado que se mantém a partir de certas conquistas que a comunidade científica construiu. Deste modo, o discurso de divulgação, que é um discurso segundo, relativamente ao discurso científico, acaba por transformar suas notícias em argumentos a respeito do lugar da ciência na sociedade atual.