Revista Rua


Linguagem e Conhecimento: Produção e Circulação da Ciência
Production and Circulation of the Science

Eduardo Guimarães

e certas disciplinas científicas (as ciências humanas), e, de outro, as ciências exatas, ciências da vida e Tecnologias. Esta divisão é semelhante à que encontramos no funcionamento dos órgãos de fomento em geral.
            Como se vê, o quadro atual de predominância das ciências da vida, Exatas e Tecnologias já vem de há muito. Hoje, como uma forma de enfrentar demandas específicas destes setores significados como não centrais, podemos ver já o atendimento destes organismos de demandas de outros domínios científicos através de editais específicos para as Ciências Humanas, por exemplo.
            De um certo modo temos no discurso do Estado e da mídia uma divisão, própria de um discurso tradicional, entre os domínios das humanidades (Filosofia, Literatura, Ciências Humanas e Sociais, História) e as Ciências e Tecnologia. Pode-se dizer, de um certo ponto de vista, que esta divisão significa uma concepção social pragmática e utilitária do conhecimento e que compreende quase exclusivamente as Ciências Exatas, da vida e suas Tecnologias.
            Diria que há uma concepção empirista da ciência que sustenta o trabalho da mídia e este empirismo está completamente de acordo com um pragmatismo que está também presente na posição dos organismos de Estado que produzem políticas científicas enquanto norma.
             Estas colocações parecem indicar para uma concepção de ciência entre atores como o Estado e a mídia, mas não nos fala sobre a posição do próprio domínio da ciência. E isto é igualmente interessante. Se nos valemos aqui das reflexões sobre a constituição dos domínios das ciências, vamos ver que as Ciências Humanas vão se constituir, tardiamente, relativamente aos outros domínios, já no século XIX. E neste cenário elas aparecem numa disputa que se trava entre três pontos, pelo menos: Filosofia, as Ciências Humanas e as Ciências Exatas e da vida. Segundo Foucault, a configuração das Ciências Humanas no século XIX se faz a partir da “emergência histórica de um problema, de uma exigência, de um obstáculo de ordem teórica e prática” (FOUCAULT, 1966: 356), e é assim um acontecimento na ordem do saber que ele caracteriza como uma redistribuição geral da epistéme. Para Foucault,
 
 O homem tornava-se aquele a partir do que todo conhecimento poderia ser constituído em sua evidência imediata e não problematizada; tornava-se, a fortiori, o que autoriza o questionamento de todo conhecimento do homem. Daí esta dupla e invitável contestação: a que forma o perpétuo debate