Análise do discurso da arqueologia preventiva na Folha de S. Paulo: A Casa Bandeirista do Itaim


resumo resumo

Glória Tega
Rodrigo Bastos Cunha



A polifonia (cf. AUTHIER-REVUZ, 2011) é uma característica da matéria, porém ela aparece no texto por meio apenas de discursos indiretos. Observe:

 

Em dezembro, Teófilo Rocha, diretor da empresa que administra o terreno, afirmou que as obras de restauro começariam no dia 15 de janeiro. A reportagem visitou o local, mas não há sinal de obras. O diretor foi procurado durante as duas últimas semanas, mas não atendeu à Folha.

A arquiteta Helena Saia, responsável pelo restauro, disse que está sendo feito o orçamento e que a obra começará em fevereiro.

 

No trecho reproduzido acima, o verbo “afirmar”, para se referir ao discurso de Teófilo Rocha, de acordo com CHAROLLES (1976), confere um valor de verdade ao enunciado citado (). Mas, ao relatar que procurou o local e não encontrou obras, e que, depois disso, o diretor não atendeu ao repórter, e, ainda, ao colocar o discurso da arquiteta responsável pelo restauro logo em seguida, dizendo que as obras começariam em fevereiro, há um efeito de sentido de dúvida em relação à verdade atribuída ao discurso do diretor da empresa e da própria arquiteta Helena.

 

A destruição

São as três matérias seguintes que tratam da destruição do sítio arqueológico por uma obra no local, em 2009. A notícia, ou o que a Folha chama de “puro registro dos fatos”, dos três textos foi a destruição causada à Casa Bandeirista por um grande empreendimento imobiliário.

Pensando na definição de uma matéria de divulgação científica, ou seja, a “textualização jornalística do discurso científico” (ORLANDI, 2008, p.151), surpreendentemente, nenhuma matéria desse grupo se encaixa nessa definição, apesar de tratar de um assunto diretamente relacionado a pesquisas científicas na área de Arqueologia. A notícia da destruição do sítio arqueológico não seria notícia se antes a área não tivesse sido pesquisada e definida como um sítio arqueológico. Entretanto, o único traço de achados arqueológicos que aparece na matéria está na linha fina, sublinhado no trecho abaixo, mas o repórter atribui esse discurso ao Ministério Público e a própria Arqueologia está silenciada aqui (cf. ORLANDI, 1992). Observe:

 

Segundo Ministério Público, escavações da obra já "destruíram" terreno onde ainda há pedaços de louça, vidro e cerâmica antigos