Revista Rua


Linguagem, tecnologia, conhecimento e suas relações no contexto de formação continuada de professores
(Language, Technology, Knowledge and their Relations at Teachers Continuing Education)

Fernanda Freire

Cria-se, então, uma rede de escreventes e leitores.
O segundo modo de usar o Portfólio visa o refinamento de conceitos tratados ao longo do curso. Cada curso se apóia em um texto – os fascículos da Coleção Linguagem e Letramento em foco – que apresenta e discute – por meio de dados – aspectos teórico-práticos que importam à temática do curso.
Com o objetivo de relacionar a teoria com a vivência educacional do professor em formação preparamos um conjunto de perguntas a partir de uma situação-problema que pode ser de diferentes tipos. Apresento, como exemplo, uma atividade baseada em um episódio do Chico Bento, conhecido personagem caipira de Maurício de Sousa. A escolha da situação-problema, neste caso uma história em quadrinhos, tem a ver com o tema em discussão naquele momento do curso: as variedades lingüísticas, a relação fala/escrita, os “erros normais” de escrita que são muitas vezes – e equivocadamente – tomados como sinais de patologia.
Nessa história, Chico Bento lê em voz alta para os colegas, a pedido da professora, a bela redação que fez sobre a relação do homem com a natureza. E como ele lê? Lê usando a variedade lingüística que tem. E como ele escreve? Sua escrita traduz a sua fala sendo, portanto, diferente da escrita convencional tal como escreventes que dominam o Português escrito o fazem.
A partir dessa história propomos aos participantes do curso que assumam o lugar da professora de Chico Bento para refletirem sobre a relação normal/patológico no contexto de uso da escrita; a respeito dos interdiscursos (e saberes) que são convocados quando se escreve um texto sobre um determinado tema; sobre o modo como o professor deve intervir nos textos dos alunos para que aprendam a escrever a variedade padrão da língua.
Prevemos, para esse tipo de atividade, duas rodadas de resposta. A primeira versão da atividade feita pelo participante do curso é lida e comentada pelo formador que observa o entendimento dos conceitos/conteúdos envolvidos. Orientado pelo comentário que recebe do formador – que não tem o objetivo de corrigir supondo uma resposta certa, mas que busca levar o professor a melhor explicitar seu entendimento sobre o conteúdo – o professor em formação escreve uma nova versão da atividade como mostra a Figura 4: