efeitos de sentidos que, colados à imagem do cartão postal, desestabilizam o que é dado como sentido oficialmente aceito. Na verdade, parte do grupo social resiste, permitindo que a memória volte a qualquer tempo e lugar, restaurando a ponte e a idéia de ponte sobre o Vale dos Diabos.
“Garganta do Diabo” retorna porque faz sentido antes, no já-lá; enquanto “Menino Deus” está, pelo menos ainda está, dissociado da imagem do Viaduto em questão. Este nome parece estar ainda esvaziado de sentidos que remetam ao ponto turístico, estando vinculado apenas ao bairro de mesmo nome. Isso dificulta ainda mais a interdição da designação primeira, já que ela é mais do que um nome. Administrativamente o nome é alterado, mas politicamente temos o processo de re-significação que não está completo, promovendo a oscilação entre um nome e outro, a colagem de um nome ao outro. Ao retirar o nome “diabo”, acredita-se estar evitando sentidos, acredita-se na possibilidade de “de-significação”, de esvaziamento de sentidos, de substituição do profano diabo pelo sagrado deus. Mas parece que o “diabo”, profano como é, volta... sempre volta, mesmo que seja entre parênteses...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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