Revista Rua


De "garganta do diabo" para "ponte sobre o vale do menino Deus": reflexões acerca das práticas sociais e dos modos de designar o espaço público
From "Devil's Throat" to the "Bridge over The God Boy Valley": Reflections about the social practices and the ways to designate the public space

Verli Petri

a “Garganta do Diabo” não cabe nele, e nem precisamos explicitar a rede parafrástica que se propaga desta expressão.
Sem dúvida, as relações contraditórias são inerentes à discursivização de um espaço público urbano,que deverá fazer parte do outro, e por isso precisa ter o nome alterado. Isso já é do universo discursivo logicamente estabilizado, muito embora a ressignificação deste espaço ainda sofra a resistência de um determinado grupo social, que faz funcionar a memória, retomando sempre o nome que significa de fato. 
 
A CIRCULAÇÃO DO NOME: ENTRE A MEMÓRIA SOCIAL E A HISTÓRIA OFICIAL
 
Selecionamos textos divulgados no universo virtual no período de 2002-2010, nos quais é possível observar o jogo de palavras, de dentro e de fora dos parênteses, de um nome ao outro, o que revela a presença incômoda dos dois nomes: no primeiro plano, temos a “Ponte sobre o Vale do Menino Deus” e, em seguida, entre parênteses, ou como aposto explicativo (ambos os recursos devem acionar uma memória), temos a “Garganta do Diabo”. Optamos por exemplificar nossa reflexão com três excertos que revelam as relações contraditórias entre o nomear e o designar, desde o documento oficial que promove a alteração, até o funcionamento desta alteração na mídia eletrônica. O nomear funciona, mas o designar ainda não: é preciso que o nome antigo retorne, para que os dois nomes signifiquem.
Nossa reflexão, então, traz à baila questões referentes ao funcionamento da história e da memória, a presença e o funcionamento de cada uma: a primeira vinculada (neste caso) ao que é oficial – o nome; já a segunda, funciona no dizer que produz sentidos sobre o nome. Embora a memória seja, ao mesmo tempo, lacunar e saturada, é pelo seu funcionamento que o nome ganha outro estatuto, o de designação. História e memória, neste caso, funcionam coladas uma à outra, retornando sempre, muito embora saibamos que “a história resiste ao tempo; o que não pode a memória” (DAVALLON, 1999: 26). Até quando, então, resistirá a “Garganta do Diabo”, como aposto explicativo ou entre parênteses? É difícil prever. Estamos trabalhando com o que temos hoje, uma atualidade