Revista Rua


Divulgação monstra: pulsações por entre vida, caos e política
(Monster divulgation: pulse through life, chaos and politics)

Susana Oliveira Dias

sensibilidades sobre os deslocamentos produzidos nas noções de humano, vida e tempo, investindo nos jogos (sem) sentidos das imagens, no inesperado das ruas, nas biotecnologias imersas na vida.
A peça-poema-jogo desejava fazer gaguejar o futuro. Impossibilitar que o futuro fosse atribuído a um conjunto de prováveis (dados pelas jogadas). Propiciar a sensação de participação de todos (imagens, monstros, humanos, palavras, artistas, pesquisadores e pessoas das ruas) na invenção de futuros. Impedir, entretanto, que qualquer um pudesse determiná-lo, capturá-lo.
 
E, num dado momento, o que acontece?
Temos experimentado encontros entre filosofia, arte, ciências, imagens, palavras e sons numa busca por uma nova sintaxe da divulgação científica, com outras ordenadas, outras zonas de indiscernibilidade. “(...) os encontros têm como objeto os signos” (VASCONCELLOS, 2006: 4). Para Jorge Vasconcellos, as conexões que Gilles Deleuze faz entre signo, pensamento e criação são potentes porque se opõem a uma imagem dogmática do pensamento, em que o pensamento aparece como a busca natural pela verdade, pelo verdadeiro, na qual o bom senso e o senso comum são tomados como potências compartilhadas por todos os humanos, e onde o modelo da recognição é preponderante, funcionando e fazendo funcionar a centralidade do sujeito no pensamento (2006: 5-6). 
 
O mundo dos signos, dos sintomas, do obscuro, da violência, contrapõe-se ao mundo da racionalidade. Os signos se efetuam, ao mesmo tempo, como objetos de encontro com os mundos e efeitos de encontros com os mundos. Como se os mundos aguardassem, ficassem à espera infinita por um acontecimento. Possibilidades de gestação. O que teria acontecido? O acontecimento, o sentido, para Gilles Deleuze, não pertence a um sujeito, não corresponde ao vivido, nem ao visível. Subvertendo o bom senso e o senso comum, que estabelecem a aliança entre o eu, mundo e Deus, o acontecimento deleuziano afirma o paradoxo, indo sempre nos dois sentidos (bom senso e senso comum), e, ao mesmo tempo, no não-senso da identidade perdida, irreconhecível (DIAS, 2008: 24-5).