Revista Rua


Cidade narrada, tempo vivido: estudos de etnografias da duração
City told, Time lived: Studies in Ethnography of the Duration

Ana Luiza Carvalho da Rocha, Cornelia Eckert

à entrada no asilo desvelam trajetórias e experiências na vida urbana de Porto Alegre em suas continuidades e descontinuidades.
Pedro testemunha para Lucas trajetórias de trabalho na cidade de Porto Alegre como garçom. Fotos com patrões, colegas, mas também com autoridades que freqüentaram o restaurante onde trabalhava, corroboram o convívio com uma rede de pessoas públicas. Um vereador que era amigo situa partidos políticos de conjunturas históricas anteriores. Já Marieta ordena sua narrativa a partir de experiências geracionais da vida cultural. A força do rádio no século passado em seus programas de calouros é lembrada na voz fraca de Marieta entre versos de marchas carnavalescas. Uma Porto Alegre dos anos 1950 a 1960 aparecem nas canções, no relato de carnavais de rua e de clubes em suas festas e fantasias. Adereços de uma fantasia fazem, aliás, parte de sua performance para restaurar a Lucas, o ethos de sua atuação profissional como cantora e dançarina da Rádio Difusora em Porto Alegre.
Luduvica e Azevedo abrem armários, caixas e álbuns para trazer a Lucas fotografias e cartas que figuram suas trajetórias na cidade. Imagens mentais “estetizam” cenas sociais vividas como sujeitos biográficos. Os atores elaboram cenas sociais de pertença a redes familiares em suas dramáticas. Nessas trajetórias, atribuições de acontecimentos históricos na cidade, no país, servem para justificar vulnerabilidades e crises familiares. Rui mistura dramáticas pessoais e intrigas de suas leituras literárias densas, e a justificativa de um armário tomado de livros, medalhas e outros objetos pessoais de sua antiga morada. Nesta densidade interpreta o sentido de si mediante uma estrutura de significações e determinações sociais que nos remetem a conjunturas políticas e históricas em Porto Alegre.
Lucas constrói o seu relato etnográfico de uma duração a partir de imagens fotográficas de cada personagem e de suas narrativas biográficas gravadas em vídeo. Na posição de pesquisador, as narrativas são “transcriadas” em imagens visuais e sonoras qualificadas pelo evento etnográfico. Ao final, os personagens são restituídos em suas inteligibilidades narrativas no suporte de um DVD, num texto povoado de uma escrita alegórica, compondo um dos capítulos de sua dissertação de mestrado. Pode-se, na condição de leitoras de sua obra, conhecer a condição de vidas em Porto Alegre, em suas