Revista Rua


Nomes de estados brasileiros em ruas e avenidas de Pontes e Lacerda: Sentidos de urbanização do/no extremo oeste brasileiro
Names of Brazilian states in streets and avenues of Pontes e Lacerda: senses of urbanization of/in Brazilian west

Divino Alex Rocha de Deus

Desse modo, falar do locutor (locutor-x) de uma cena de enunciação, não se trata da pessoa empírica, mas do lugar social que o autoriza a falar. Vale dizer que o semanticista difere locutor (l – minúsculo) de Locutor (L – maiúsculo).  O Locutor é o lugar que se apresenta como fonte do dizer. Entendido dessa forma, Guimarães (idem, p. 24) diz que ”para o Locutor se apresentar como origem do que se enuncia, é preciso que ele não seja ele próprio, mas um lugar social de locutor”.
Na cena enunciativa em que nomes de estados brasileiros se oficializam como nome de ruas e avenidas, temos um locutor-x (locutor-oficial) que, predicado por seu lugar social, o de administrador da CODEMAT, enuncia nomes de estados brasileiros para identificar vias urbanas da cidade, recortando como memorável a história de enunciações que nomeiam as unidades federativas do Brasil. O nome do estado de São Paulo, por exemplo, retoma a enunciação que nomeou uma antiga igreja com esse nome. Na medida em que São Paulo é enunciado como nome de um estado brasileiro, significa na língua falada no Brasil, como efeito de nacionalidade, uma territorialidade brasileira. Do mesmo modo funcionam outros nomes de estados.
Considerando que o processo sócio-histórico em que se dá a enunciação que nomeia ruas e avenidas de Pontes e Lacerda é marcado pela questão de constituição da territorialidade e nacionalidade brasileira, diríamos que, como falante da língua oficial do país, o locutor-administrativo faz significar o estar na língua onde estes nomes já designam territorialidadebrasileira, portando, designam o estar no Brasil. Vemos aí, que os nomes atribuídos ao espaço urbano são determinados por políticas de ocupação, e além de um efeito administrativo e localicazador, é uma espacialização de sentidos de estar/ser do Brasil pelo modo como os nomes de ruas e avenidas designam. A repetição dos nomes de estados que designam outras relações de territorialidade significa o funcionamento urbano num espaço projetado por políticas de ocupação do Oeste do Brasil.
Parafraseando Guimarães, urbanizar é recortar um passado. Pelo que podemos compreender o conjunto de onze nomes de importantes vias urbanas de Pontes e Lacerda designam o estar no Brasil pelo modo em que se dá a enunciação que as nomeiam, pelo modo como recortam memoráveis para o espaço urbano pontes-lacerdense.