Revista Rua


A ironia exacerbada vira nada. Nada? Incômodos com Narradores de Javé
The extreme irony becomes nothing. Nothing?Troubles with Narradores de Javé

Wenceslao Machado de Oliveira Jr

motor do poder. A ironia coletiva advém do reconhecimento implícito e partilhado desse arbitrário constitutivo do poder (JEUDY, 2001, p.57).
 
Uma ironia que atravessa os corpos dos brasileiros acostumados com uma democracia onde a maioria dos que são ouvidos o são somente para compor o jogo retórico e dissimulado do poder. Se assim considerado, este filme pode ser visto como uma obra da ironia coletiva, aquela sabedoria popular que sabe que “a ironia da comunidade nasce de um reconhecimento da replicação da dissimulação pela superexposição das ‘melhores’ intenções da gestão pública”(JEUDY, 2001, p.57).Se não há mesmo como sensibilizar o poder para o drama sofrido pelos desterritorializados pelas barragens, então vamos rir juntos.
Um filme que repete o mote do riso fácil para atrair público? Repete o riso fácil e atraiu um certo público. Durante o Narradores de Javé revemos Grande Otelo e Oscarito em seus malabarismos de malandros cinematográficos das chanchadas de anos passados. Revemos também os tantos humoristas da tevê que nos fazem rir daqueles que se levam muito a sério. A tênue distinção que atravessa o filme é entre o riso que movimenta o pensamento, que nos desassossega e o riso que acomoda as coisas onde elas já estavam e de onde nunca pretenderam sair.
Um filme onde a maioria das coisas permanece onde estava, identificadas com um jeito de ser brasileiro.
 
Contra as incertezas do sentido dado aos eventos atuais, a restauração do passado faz figura de destino. A identidade nunca é perdida pois continua a ser conquistada. Triunfa quando as imagens identitárias se tornam cartões-postais, estereótipos que provocam emoções coletivas, que fortificam o espírito comunitário e passam pelos atributos da sobrevivência de culturas.” (JEUDY, 2001, p.62)
 
Um filme que perdeu sua potência política de exercitar a poesia da linguagem cinematográfica para exercitar a política do cinema como produto de consumo de massa. Fazer rir é garantir público, é repetir o herói macunaímico que atravessa nossa cultura de ir levando vantagem sem ter respeito pelo outro. Mas, ao contrário de Biá, Macunaíma nos fazia rir de nós mesmos: muita preguiça.
Um cinema que perdeu sua potência poética para ampliar sua potência como entretenimento. Mas se mais gente viu, então a potência política do tema ganha relevância? Depende de quem o assistiu. Camadas urbanas acostumadas e desejosas de filmes que atuem politicamente na própria linguagem do cinema devem ter se