Revista Rua


Sentidos do/no corpo interpelado pelo câncer de mama
Senses of / in nobody challenged by breast cancer

Lívia Fabiana Saço e Eliana Lúcia Ferreira

Corpos diferenciados da normalidade social proclamam uma urgência de experimentar vivências corporais e de sobreviver físico e socialmente. É uma espécie de necessidade não apenas de encontrar um modelo de vida diferente, mas de buscar, a partir do contraste histórico entre uma identidade mais definida, uma nova forma de organização para o que já existia (FERREIRA, 2005).
Outra questão presente no discurso corporal é a questão da “Dor”. Segundo Miceli (2009) e Shamley (2007), a percepção da dor possui uma visão multidimensional, e a modulação da dimensão fisiológica da dor é influenciada pelas dimensões sensorial, emocional, comportamental e cognitiva.
Sentimentos e sensações de dor vão aflorando ao curso da história da doença e de seu possível prognóstico; esta aparece imbuída de significados representativos na individualidade de cada ser:
 
Eu sentia dor quando eu estava com o peito, mas agora que tirou eu não sinto mais nada, só se pegar muito peso (...) (S15).
 
Sentindo bem, sentindo uma dor no braço. Dói muito, depois da cirurgia (...) (S23).
 
Tem dia que eu fico um pouco cansada, desanimada, com o corpo dolorido, a dor anda no meu corpo (...) (S8).
 
Dores de cabeça (...) e eu acho (...) que pode ser alguma coisa vindo da mama (...) ( S10).
 
A que mais marcou foi quando eu perdi meu peito e descobri que estava com câncer (...) aí doeu (...) [CHORO] (...) (S15).
Na transformação da mulher para uma mulher com câncer de mama, são percebidas cicatrizes não somente físicas, mas também psicológicas, afetando sua personalidade.
Todas estas “marcas corporais” que afetam, significativamente, as mulheres constituem-se em cicatrizes visíveis/invisíveis, palpáveis/(in)palpáveis, fazendo parte desse Ser agora transformado pela doença, transformação nos planos físico, social e psicológico, como podemos observar abaixo:

O centro cirúrgico me incomoda profundamente. Aquele momento da cirurgia me deixa ansiosa, me incomoda profundamente. O momento da anestesia é o pior, nem o antes nem o depois. A anestesia me deixou sequela do processo da outra cirurgia que eu tive que ficar respirando na máscara (...) foi angustiante (S7).
 
Essa porcaria voltar, não de me tirar mais uma parte do corpo, mas de me impedir de viver (...) (S21).
 
Foi difícil colocar a roupa e ver aquele lado vazio (...) (S19).