Revista Rua


Divulgação monstra: pulsações por entre vida, caos e política
(Monster divulgation: pulse through life, chaos and politics)

Susana Oliveira Dias

  
Adentrar o site do filme e circular pela fábrica. Conhecer o Andar do susto, ver os Sustos em andamento ou ir para o setor de Treinamento dos monstros onde as criaturas aprendem, num laboratório equipado com a mais alta tecnologia, como assustar as crianças e coletar e processar seus gritos: “Fontes de energia pura e confiável”. Crianças e humanos que, por sua vez, ameaçam os monstros. Assustam. Têm sua entrada no mundo dos monstros expressamente proibida. Numa passagem pela administração da fábrica encontramos o alerta: “Perigo: contaminação humana”. Como delimitar a fronteira entre o humano e o monstruoso? Tal contaminação (monstro-humano) já não ocorreria? Como potencializar o risco da contaminação fora dos domínios do perigo e do medo?
Na entrada da fábrica a simpática recepcionista, de um olho só, atende ao telefonema da Sra. Monstrozilda: “Não vou à fábrica hoje porque estou muito gripada e uma das minhas cabeças está explodindo de enxaqueca”. Elenise Andrade, diante de um dos cartazes de divulgação da animação – que alerta “We scare because we care” (Assustamos porque nos preocupamos) pergunta: “Será, então, que a ‘função’ de assustar estaria conectada com a preocupação em delimitar o que(m) assusta (o) que(m)?” (2007). Corpos, situações que assombram os limites tênues e explosivos entre humanos, crianças e monstros. A potência dos monstros parece residir, exatamente, na impotência, em não conseguirmos estabelecer limites, encontrar aquilo que seria próprio (a essência, o fundamento) de humanos e de monstros. Acordamos de um sono intranqüilo com a estranha sensação de sermos, ao mesmo tempo, humanos-inumanos...
 
Quando certa manhã Gregor Samsa despertou depois de um sono intranquilo, achou-se em sua cama convertido em um monstruoso inseto. Estava deitado sobre a dura carapaça de suas costas e, ao erguer um pouco a cabeça, viu a figura convexa de seu ventre escuro, sulcado por pronunciadas ondulações, em cuja proeminência a colcha mal podia aguentar, pois estava visivelmente a ponto de escorregar até o solo. Inúmeras patas,