Revista Rua


Divulgação monstra: pulsações por entre vida, caos e política
(Monster divulgation: pulse through life, chaos and politics)

Susana Oliveira Dias

hibridização caótica e pretender o susto (ANDRADE; MACEDO; DIAS, 2009: 260).
 
... e se a divulgação científica se propusesse a sustar o susto da ausência de explicação, interpretação? E se propusesse tirar a sombra do assombro de ações de divulgação científica que atentam para o humor, para as sensações, para as questões éticas e estéticas, não somente se atendo à difusão do conhecimento científico na lógica do esclarecimento? Que políticas pulsariam?
 
ESCRITA, VIDA E POLÍTICA
 
Transgênicos, clonagem, reprodução assistida e células-tronco. Os deslocamentos que a investida intensa das biotecnologias-mídias têm promovido nos conceitos de vida, humano e futuro têm sido amplamente estudados. Laymert Souza Santos (2004) destaca a transformação no modo de pensar o humano como, ao mesmo tempo, organismo e agenciamento técnico. Como matéria mórbida e mortal e, ao mesmo tempo, arquivo de dados, banco de dados. Essa dinâmica foi identificada por Donna Haraway (1991) como “virada cibernética” e privilegia a dimensão informacional dos organismos. Informação que emerge como condição de controle e captura do futuro. Futuros presos, determinados por um conjunto finito de probabilidades, por combinações possíveis dentro de um conjunto finito: o infinito finito.
Variabilidades dadas. Futuro apontado como perigoso pelas experimentações biotecnológicas que anunciam possibilidades vidas inventadas; seres nunca vistos; hibridizações entre animais, humanos, máquinas, informações; novos designers biológicos e culturais[11]. Futuros manipuláveis, capturáveis, destinos previsíveis. Avaliações que Claudia Fonseca (2004) quer provocar com suas análises sobre a biologização das relações familiares promovidas pela invasão dos exames de DNA nas decisões jurídicas de paternidade. A partir de estudos etnográficos, em favelas do Rio Grande do Sul, e conexões com o dilema de Capitu, a heroína de Machado de Assis, Fonseca traz à tona como as promessas de acabar com as dúvidas, por meio da oferta de


[11] O interesse crescente das biotecnologias pelo designer – pelo desenho de produtos biotecnológicos – movimenta as criações do artista australiano Oron Catts – que dirige o laboratório SymbioticA na Universidade da Austrália Ocidental. Catts cria produtos os mais diversos para artistas como Stelarc e Orlan, usando as biotecnologias e tecidos vivos. Trabalha, assim, com a vida biológica como matéria-prima de suas obras (URBANO, J.; MENEZES, M. de; COSTA, P. A., 2006).