Revista Rua


Linguagens perdidas de divulgação científica: simulacros e artesanatos
(Lost languages of science dissemination: simulacra and handcrafts)

Peter A. Schulz

A DIVULGAÇÃO, OS MEIOS CONTEMPORÂNEOS E SUAS LINGUAGENS
 
Divulgação científica, numa definição sucinta e imperfeita, é uma atividade que engloba múltiplos discursos e que visa a difusão do conhecimento científico para públicos não especializados, que por sua vez são variados e cada um com necessidades específicas. É uma atividade com uma longa história, que tende a ser esquecida dada a amplitude que o tema tomou mais recentemente (DA SILVA, 2006). Uma das urgências atuais é a divulgação científica como suporte para políticas de engajamento público em ciência e tecnologia (Schulz, 2009) buscando políticas sociais mais participativas. O contexto neste trabalho é mais específico: a comunicação científica, seus meios e linguagens, que definem em parte os lugares nos quais a divulgação ocorre (MURIELLO, CONTIER, KNOBEL & TALES, 2006).
Ao pensar em novas tecnologias de linguagem em divulgação científica, somos instados quase inexoravelmente a pensar nos novos meios proporcionados pelas tecnologias de informação e comunicação, TICs. São as possibilidades advindas com o desdobramento da world wide web e sua hipertextualidade, bem como as cada vez mais sedutoras possibilidades gráficas, de animação e de interatividade. Esses elementos criam um espaço virtual com uma linguagem incipiente.
Quando pensamos em um novo meio precisamos de cautela para não tomar o meio em si como metonímia para a linguagem desse meio. Um exemplo, emprestado da origem do cinema, pode elucidar esse ponto de vista. A invenção do cinema pelos irmãos Lumière em 1895 desvelou um meio de comunicação que a princípio era pouco mais que uma curiosidade. Inventou-se um meio, mas era necessário ainda desenvolver uma linguagem para esse meio. De cara percebeu-se o impacto dessa invenção como registro do cotidiano, mas isso não era suficiente para provocar o aparecimento da imensa indústria cultural, criada nas décadas seguintes. Faltava uma linguagem própria, algo que só o cinema poderia fazer. Uma coisa que o só o cinema poderia fazer é a dramatização da simultaneidade pelo seqüenciamento das ações em montagens paralelas. O paradigma desse recurso de linguagem do cinema é uma seqüência no filme O nascimento de uma nação de David Griffith realizado em 1915, em que cenas de um bando a cavalo são alternadas com cenas de uma família jantando. O ritmo da alternância, ditada pela montagem do filme, acelera-se