Revista Rua


Linguagens perdidas de divulgação científica: simulacros e artesanatos
(Lost languages of science dissemination: simulacra and handcrafts)

Peter A. Schulz

diferenciação meio (simplesmente) e meio com uma linguagem própria se dilui. Blogs parecem objetos culturais para os quais a tese de que “o meio é a mensagem” em si, de Marshall Macluhan, adequa-se perfeitamente. Seria interessante, no entanto, a partir da premissa de que esses blogs sejam de fato meios/ferramentas inestimáveis, verificar qual é o público de fato atingido e participante. A questão de fundo é: qual aspecto da divulgação científica é de fato realizado?
Ainda assim a análise continuaria incompleta. Poderíamos estendê-la com outras questões. Quais são os lugares da divulgação científica, imaginada aqui como prática da atividade científica? O que a hegemonia das atividades baseadas nas TIC suprime e talvez não devesse suprimir?
Na primeira pergunta sobre a prática da atividade científica, excluem-se os aspectos abordados pela sociologia da ciência, ou seja, a prática institucional da ciência. A pergunta refere-se, portanto, a atividades que transitam no âmbito de ensino informal, do lúdico, do lazer, nas quais o leitmotiv é um fenômeno científico. Esse recorte permite incluir a idéia da atividade de divulgação científica como artesanato semelhante ao modelismo. Esses lugares das chamadas “hands on” (interação manual) e “minds on” (engajamento intelectual) em ciência são basicamente os centros e museus de ciência, cuja disseminação é reconhecidamente necessária. Essas atividades também têm lugar em espaços de ensino formal, isto é, laboratórios escolares. Nesse contexto, as TCIs proporcionam – veja os exemplos acessíveis pelo portal Pion, mencionado acima – com as simulações de experimentos e demonstrações virtuais, um complemento descentralizado (pode ser realizado em qualquer lugar com um computador ligado à internet) ao “hands/minds on” realizado em locais específicos. Seria um simulacro ao “mão na massa” artesanal. E aqui chegamos ao terreno da segunda pergunta, pois essa complementaridade descentralizada sugere à primeira vista ser abrangente e sedutora. A sedução se dá tanto pela incrível dinâmica de renovação de produtos disponíveis, quanto pela crescente sofisticação da identidade visual com o que é “contemporâneo à beira de um futuro” do qual o usuário é cúmplice.
Sem negar a importância desses meios na divulgação científica, a hegemonia dos mesmos praticamente eliminou do horizonte das possibilidades atuais um meio “hands and minds on” por excelência: os kits de experimentos científicos. A ilustração aqui de alguns