Revista Rua


Linguagens perdidas de divulgação científica: simulacros e artesanatos
(Lost languages of science dissemination: simulacra and handcrafts)

Peter A. Schulz

exemplos tem o propósito, por um lado, de registrar a oportunidade de um resgate histórico desse modo de divulgação científica e, por outro lado, mostrar que o retorno em grande escala dessa experiência deve ser discutido, em círculos mais amplos do que o das manifestações isoladas de alguns poucos representantes da comunidade científica (RAW, 2005).
 
“HANDS AND MINDS ON” E OS KITS CIENTÍFICOS.
 
A prática de “hands on” em ciência e tecnologia apresenta de certa forma um parentesco com as atividades de modelismo, na qual em vez de miniaturas de navios, carros, aviões ou trens, constroem-se experimentos científicos ou aparelhagens tecnológicas. No entanto, se deixarmo-nos levar por essa semelhança iríamos ter dificuldades em definir um ponto de partida histórico para os “kits de experimentos”, pois a separação entre modelos e modelos de máquinas com caráter de difusão de conhecimentos tecnológicos era bastante tênue no início do século XX.
 
Um recorte  para a  presente  discussão  remete a  um  meio  tradicional  de divulgação  científica: o  texto  escrito. A  revista de divulgação Scientific American abrigou  durante  várias  décadas (1928-2001)  uma  coluna  intitulada   “Amateur scientist” (cientista amador),  talvez  a  fonte  de “como fazer”  mais  influente   para   “cidadãos-cientistas”, aliás a mais longeva seção da história dessa revista (http://en.wikipedia.org/wiki/The_Amateur_Scientist). Era uma fonte influente para projetos de feiras de ciências, com projetos elegantes e sofisticados, mas acessíveis, trazendo descrições detalhadas dos mesmos, bem como guias para as dificuldades inerentes à execução desses projetos. Enfim, tratava-se de uma referência básica e bastante disseminada em um conjunto de publicações voltadas ao “hands and minds on”, atividade realizada no âmbito do ensino formal, mas também em casa. Essa atividade foi aos poucos sendo adotada por museus de ciência (interação manual a partir dos anos 1960 e de engajamento intelectual mais recentemente), que hoje, curiosamente, tendem ser o espaço exclusivo dessas práticas.