Revista Rua


Linguagens perdidas de divulgação científica: simulacros e artesanatos
(Lost languages of science dissemination: simulacra and handcrafts)

Peter A. Schulz

essa experiência, surgiu uma iniciativa bem mais ambiciosa comercializado pela Abril Cultural entre 1972 e 1974 (PEREIRA, 2005), a coleção “Os cientistas”: 50 kits acondicionados em caixas de isopor com experimentos em parte especialmente desenvolvidos no Brasil. Cada kit era acompanhado de um fascículo com a biografia do cientista tema dos experimentos do kit associado. Esses kits eram distribuídos nas bancas de jornal e, ao ser apresentado na feira de livros de Frankfurt de 1973, foi considerada “grande surpresa” pelo jornal Le Fígaro. Além de lembrar-me do prazer de ganhar um kit novo a cada 15 dias, quase quarenta anos depois continua forte a impressão da qualidade da coleção: os kits cobriam áreas da Física, Química e Biologia, desde as experiências de Galileu, magnificamente reproduzidas com o auxílio de um cronômetro de água, até princípios da Física de semicondutores, passando por experiências de indução eletromagnética de Faraday ou o acelerador de van der Graff. Em Química lembro-me do kit de Bunsen com um espectroscópio, de um kit com o qual era possível sintetizar plásticos e outro, que permitia fazer uma cromatografia simples. Com um kit de Biologia fiz testes de tipo sangüíneo ou as experiências de Mendel.
O aspecto mais relevante a ser destacado aqui é a amplitude dessa coleção. O primeiro número, referente a Isaac Newton, teve uma tiragem que alcançou 280.000 exemplares vendidos em todo o Brasil, sendo que uma venda média de 250.000 foi mantida durante os dois anos da coleção (PEREIRA, 2005). Segundo essa fonte, teríamos o impressionante número de mais de 12 milhões de kits distribuídos entre crianças e jovens brasileiros, número equivalente a 12% da população brasileira na época. A importância dessa iniciativa precisa ser reavaliada, pois foi um projeto de difusão científica muito bem- sucedido e jamais reeditado. O alcance pode ser bastante amplo, levando-se em conta os números de venda apresentados na edição pioneira, além disso, a interação com os kits é “hands and minds on” por princípio. Os kits eram acompanhados por manuais de instruções que propunham questões que só podiam ser respondidas com a realização das experiências. É necessário, pelo menos, resgatar a memória da concepção do projeto, coordenado por Myriam Krasilchik, coordenadora da FUNBEC na época.