Revista Rua


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Do you like books? Are you an intellectual? Are you a bookworm? Then, that?s not your business anyway

Luisa Dias Brito


O Guardador de Rebanhos
                   XLVII
 
Num dia excessivamente nítido,
Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.

Vi que não há Natureza,
Que Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas ideias.

A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.
 
Foi isto o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.
 
       (CAEIRO, 2001, p.86)



Imagem disponível em: http://purl.pt/1000/1/alberto-caeiro/obras/bn-acpc-e-e3/bn-acpc-e-e3_item190/P1.html  
 
 
Biólogos, educadores ambientais, filósofos, e tantas outras gentes, buscam definições para natureza e discutem quais seriam as mais interessantes para determinados contextos. Aqui trarei apenas uma dessas definições, pela beleza e potência que nela estão presentes. Adauto Novaes (2003, p. 9), no capítulo de abertura do livro O homem-máquina, intitulado “A ciência no corpo”, traz as ideias do filósofo Merleau-Ponty que compreende existir natureza
 
em todos os lugares em que existe uma vida que tem um sentido mas onde, entretanto, não há pensamento [...] É natureza o que tem um sentido, sem que esse sentido tenha sido posto pelo pensamento. É a autoprodução de um sentido. A natureza é, pois, diferente de uma simples coisa; ela tem um interior, determina-se a partir do dentro, daí a oposição entre o “natural” e o “acidental” [...] É natureza o