Revista Rua


Você gosta de livro? Você é um intelectuário? Você é uma traça? Então aqui não tem nada da sua conta.
Do you like books? Are you an intellectual? Are you a bookworm? Then, that?s not your business anyway

Luisa Dias Brito

(LEMINSKI, 2011). (Des)caminhos que nos fazem pensar/viver/sentir outras naturezas, outras relações com os seres viventes e não viventes.
“Você é uma traça? Então aqui não tem nada da sua conta.”
Seria possível pensar na relação sociedade-natureza sem pensar nesse caldo efervescente que traz o ser humano, que faz a vida? Que caminhos inventar para pensar/sentir/viver o não estabelecido? Como buscá-los habitando a incoerência, a contradição, o paradoxo, a não linearidade, a não dicotomização?
A proposta aqui apresentada aposta na leitura como uma possível resposta para as perguntas anteriores. Mas não qualquer leitura: nem a leitura como passatempo, mecanismo de evasão do mundo real e do eu real, nem a leitura enquanto meio de conseguir conhecimentos (já que essa “tampouco nos afeta, dado que aquilo que sabemos se mantém exterior a nós”) (LARROSA, 2002, p.134).
Gostaria de pensar a leitura como formação e a formação como leitura. Pensar a “leitura como formação supõe cancelar essa fronteira entre o que sabemos e o que somos, entre o que passa (e que podemos conhecer) e o que nos passa (como algo a que devemos atribuir um sentido em relação a nós mesmos”). (LARROSA, 2002, p.136. grifos do autor.). E pensar a formação como leitura diz respeito à relação de produção de sentido que damos àquilo com o qual nos encontramos.
 
É como se os livros, assim como as pessoas, os objetos, as obras de arte, a natureza, ou os acontecimentos que sucedem ao nosso redor quisessem nos dizer alguma coisa. E a formação implica, necessariamente, nossa capacidade de escutar (ou de ler) isso que essas coisas têm a nos dizer. Uma pessoa que não é capaz de se pôr à escuta cancelou seu potencial de formação e de trans-formação (LARROSA, 2002, p.137).
 
As produções culturais dão a conhecer as crises ambientais a partir de lugares os mais variados, colocando em relação uma série de questões humanas que constituem formas tanto de habitar os mais diversos espaços, quanto de convivência entre os seres. Com elas abre-se a possibilidade de pensar e repensar o mundo a partir de perguntas, sentidos, sensações, linguagens, tensões, intenções, sonhos, desejos que o constituem.
Viver a leitura como formação e a formação como leitura pode abrir caminhos para a (trans)formação. E como o tal rato no labirinto e o cão cavando seus buracos, vamos encontrando o que não havíamos procurado; achamo-nos e nos perdemos. E esse é o encantamento. É a viagem que nos forma e nos transforma. “– Ô, ô, mãe! O coco do moço mãe! Fecha esse livro, mãe! Depois de velha resolveu aprender a ler”.