Revista Rua


Imagens e metáforas do mundo
(Images and Metaphors of the World)

Cristiane Dias

constitutiva, para, então, mostrar o modo de repetição vertical de que nos fala Pêcheux, o esburacamento da memória. 
Nessa perspectiva, procurarei compreender, num primeiro momento, de que modo informação e conhecimento se relacionam no discurso das novas tecnologias. Com isso, busco identificar as articulações discursivas do termo conhecimento para que ele passe a significar informação. Num segundo momento, procurarei compreender o modo como essas articulações, relações de sentidos, afetam a construção do conhecimento na relação com as novas tecnologias de linguagem, em outros termos, com as novas formas de produção da linguagem – e da escrita – a partir do avanço tecnológico, mais especificamente, com o surgimento da web 2.0.
Nesse sentido, minha pergunta analítica, levando em consideração essa ‘repetição vertical’ que produz o esburacamento da memória discursiva, a saber, da relação com o interdiscurso, é a seguinte: qual é a relação com o conhecimento que está posta aí? Que sentidos a informação produz ao conhecimento e, conseqüentemente, à sociedade? Será que o conhecimento foi reduzido a um “pacote de informações, ideologicamente equivalentes, sem distinguir posições?” (ibid.: 16). Poderíamos falar num a-menos do conhecimento em prol de um excesso de informação?
Situando esses questionamentos no contexto histórico contemporâneo, gostaria de começar destacando duas transformações fundamentais em nossa sociedade, apontadas por Michel Serres (1994), em seu livro Atlas: a primeira delas diz respeito à nossa maneira de habitar o espaço, o que nos leva a refletir sobre as antigas questões de lugar. Diz o autor: “onde falamos, você e eu, por onde passam nossas mensagens...?”
 
 Voici déjà longtemps que nous téléphonons aux extrémités de la Terre; les images venues de là-bas ne nous surprennent plus; séparés de mille lieues, nous pouvons nous réunir pour une télé-conférence, travailler ensemble, même. Nous nous déplaçons sans bouger d’un seul pas. Où a lieu cette conversation? A Paris, dans notre chambre? A Florence, d’où l’amie répond? Ou en quelque endroit intermédiaire? Non. En un site virtuel. Les anciennes questions de lieu: où parlons-nous, vous et moi, par où passent nos messages... semblent se fondre et se répandre, comme si un nouveau temps organisait un autre espace[1] (SERRES, 1994: 12).


[1] Tradução livre. “Há muito tempo já telefonamos para os confins da Terra; as imagens vindas de longe não nos surpreendem mais; separados por mil léguas, nós podemos nos reunir para uma teleconferência, e mesmo trabalhar juntos. Nós nos deslocamos sem dar um único passo. Onde ocorre essa conversação? Em Paris, no nosso quarto? Em Florença, de onde nosso amigo responde? Ou em algum lugar intermediário? Não. Num sítio virtual. As antigas questões de lugar: onde falamos, você e eu, por onde passam nossas mensagens... parecem se fundir e se expandir, como se um novo tempo organizasse um outro espaço”.