Revista Rua


Imagi-nando multiplicidades entre-tempos/lugares: um olhar sobre o filme Narradores de Javé
Imaging multiplicity between places/time: a perspective about the film Narradores de Javé

Giovana Scareli

Introdução
            Narradores de Javé (2003), da diretora Eliane Caffé,assim como tantos outros filmes bons, pode ser interpretado de muitas formas. Muitas pessoas “usaram” este filme em uma proposta de trabalho ou uma discussão completamente diferente da outra. Assim, em termos de conteúdo, podemos extrair deste filme uma série de temas que poderiam suscitar muitas discussões. Como, por exemplo: contação de histórias, homenageando os contadores de histórias, os contadores de causos; o direito à terra, o acesso à terra, um direito que é continuamente usurpado por outras formas de relação com a terra; a importância da escrita, a escrita como forma de diferenciação, de construção de conhecimentos; a importância da oralidade como um meio de resgatar a história e transmiti-la aos demais, às próximas gerações; a importância da documentação como garantia de posse, de legitimidade; a importância da história, história cultural, de um povo, de suas raízes, da sua constituição como pertencentes àquele lugar.
            Dessa forma, penso que o filme Narradores de Javé traz discussões muito interessantes em termos de conteúdo, principalmente no que diz respeito à relação com a importância da história, da escrita, da documentação... No entanto, o filme também apresenta outra força que é sobre um lugar e um tempo perdido no meio das águas... quase uma Atlântida... quando morrerem aqueles moradores, que de lá saíram, tudo irá virar lenda.
            Outro viés é sobre o próprio cinema. O filme apresenta imagens, imagens de um lugar, de pessoas, de cenários que nos dizem ser o Nordeste, região que se apresenta com uma cara, com um sotaque, com uma luz, com pobreza e limitações... também uma lenda, de certo modo, para quem é do Sul-Sudeste do país e nunca morou nesta região. Roberto Machado ao se referir aos estudos de Deleuze irá dizer “o cinema é uma forma de pensamento. Os grandes cineastas são pensadores, embora não pensem conceitualmente, mas por imagens” (2009, p.247).
            Eliane Caffé, na abertura do filme, brinca com um dos conteúdos mais importantes e destacáveis do filme: a questão da escrita, do uso das palavras. Há uma brincadeira com as letras que formam os nomes dos atores e demais profissionais que trabalharam no filme, letras se juntam, dançam, formam palavras, nomes e depois se dissolvem, desaparecem... beleza de um trabalho artesanal que pensa com imagens.
            O objetivo deste artigo é pensar com/sobre o filme Narradores de Javé, desvelando o filme em camadas, que são potências para outras reflexões sobre cinema,