Revista Rua


Imagi-nando multiplicidades entre-tempos/lugares: um olhar sobre o filme Narradores de Javé
Imaging multiplicity between places/time: a perspective about the film Narradores de Javé

Giovana Scareli

educação, filosofia, literatura. O texto está organizado em quatro momentos: o filme, mitos, memória e esquecimento. Penso que há muitas relações entre esses quatro elementos escolhidos como subtítulos e é assim que pretendo conversar com o leitor.
 
O filme
            É possível pensar que há três camadas diferentes neste filme. Esta idéia de desvelar um filme, de encontrar círculos concêntricos, nos permite relacionar sua construção cinematográfica ao seu conteúdo. Este modo particular de procurar camadas em um filme utilizei em minha tese de doutorado (SCARELI, 2009) com o intuito de
 
(...) olhar para o filme Santo Forte, propondo-se a trabalhá-lo em camadas. Para isso, buscamos no interior do filme, elementos técnicos e narrativos que o compõem, com o intuito de refletir sobre algumas questões potenciais presentes em cada camada, que revelam construções de diferentes sentidos atribuídos pelo diretor e sua equipe ao conjunto exposto pelo filme (p.3).
 
            Da mesma forma, Narradores de Javé possibilita este modo de entrar no filme, pois apresenta uma construção que permite esse tipo de relação. Assim, a primeira camada de filme é aquela que aparece no início. Um rapaz que perde o barco e precisa esperar até o próximo horário, até a embarcação retornar. Ele aguarda em um bar, na beira do rio onde se encontram outras pessoas. Fala poucas palavras e ouve uma longa história que um dos homens conta. Neste momento, um outro filme entra e toma conta da tela. Trata-se da história do Vale de Javé. O homem que conta a história foi um morador desse local inundado pela construção de uma represa.
            O filme se concentrará, em sua maior parte, nesta segunda camada. A história de um povo. Aqui, os diversos temas elencados acima estarão em movimento. A defesa da continuidade da cidade e da permanência de seus moradores depende de um documento que afirme que aquele local é “patrimônio” e, sendo assim, ninguém poderá mexer. No entanto, para que algo adquira esta chancela (de patrimônio), é preciso provar cientificamente a importância daquele local. Este discurso é o pontapé inicial para a estratégia montada para criar um dossiê que mostre a importância deste lugar e de seu povo. Tem início um trabalho dentro do filme que poderíamos chamar de “método científico”. O documento deverá ser construído a partir dos conceitos da História Oral. A metodologia se dá através de entrevistas com as pessoas mais velhas do povoado, que, provavelmente, sabem da brava história deste povo. Um “pesquisador”, o mais