Revista Rua


Imagi-nando multiplicidades entre-tempos/lugares: um olhar sobre o filme Narradores de Javé
Imaging multiplicity between places/time: a perspective about the film Narradores de Javé

Giovana Scareli

morador tem a sua versão, constrói um passado para Javé, a partir de seus interesses pessoais e familiares. A memória, assim como a história, não é neutra.
            Memória para os gregos antigos era Mnemosyne, filha de Urano (o céu) e Gaia (a Terra). Com Zeus Mnemosyne gerou nove filhas, as musas, responsáveis pela inspiração. Entre elas Clio, a musa da história. A memória é constituída a partir do presente e tem como função principal manter a coesão do grupo, identificando-os como uma “comunidade de memória”, produzida, criada, como mostram as narrativas dos moradores de Javé. No filme, cada pessoa, especialmente as mais velhas, requer para si o papel de guardiã da memória e o passado épico é recriado como estratégia de luta, para manutenção da terra diante da ameaça concreta de inundação provocada pela construção de uma barragem.
            Uma outra relação com as camadas que podemos considerar diz respeito à própria construção do cinema. Camadas que podem ser expressas pela escrita, oralidade e imaginação. O filme nos apresenta isso ao tratar da importância da oralidade para que se possa documentar de maneira escrita a imaginação de um povo. Imaginação que pode conter aspectos de realidade. No entanto, estas camadas operam também com o espectador e operam na construção do próprio cinema – primeiro a imaginação, depois a escrita, depois a palavra falada pelos atores, depois a imaginação dos espectadores. Polissemia da imagem cinematográfica e suas potências de pensamento.
            Camadas de luz e cores que também marcam diferenças – luz “normal” no bar, entardecer, anoitecer... luz brilhante para os dias de Javé, e tons de sépia para as histórias contadas.
 
Esquecimento
            Como tratamos de cinema, de memória, de história... enfatizamos a importância dessa lembrança, desse resgate da história, gostaria de tratar de algo que também está relacionado à memória –  o “esquecimento”. Qual será sua função? Seu papel?
            A poesia “Louvor do esquecimento”, de Bertold Brecht (s/d) pode nos ajudar a pensar sobre esta faculdade: esquecer.
 
 
Louvor do esquecimento
 
Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.