Revista Rua


Imagi-nando multiplicidades entre-tempos/lugares: um olhar sobre o filme Narradores de Javé
Imaging multiplicity between places/time: a perspective about the film Narradores de Javé

Giovana Scareli

tempos diferentes se unem na duração de uma hora e quarenta minutos. Multiplicidades de tempos/lugares no espaço da tela/duração do filme.
 
Memória
            Segundo Alexandre Werneck, “Narradores é um filme importante para o cinema brasileiro, por jogar de maneira (raramente) inteligente com alguns clichês de nosso cinema contemporâneo, sobretudo com um dos maiores deles, o filmar o Nordeste.”
 
(...) o que talvez mais chame a atenção em Narradores de Javé é seu desejo de eternidade. Ao se esgueirar por ali por fora do histórico, pelo campo do mítico, quase do fabular, do fabuloso, o filme joga com passado e futuro não só na narrativa (como já dissemos), mas também em suas próprias ferramentas expressivas. Poucos filmes atuais (não apenas brasileiros) fazem esse trânsito tão bem. Nisso, compõem-se bem o Nordeste de Graciliano que pulsa como fantasma nos tipos e no chão árido do filme... (WERNECK, 2010, p. 1).
 
            A memória que Werneck trata aqui é “uma memória mítica, é verdade, onde encontra-se com seu segundo assunto, a fala. A memória é feita na fala, é produzida pela narração”. Neste filme, memória e oralidade são confrontados com a escrita.
O filme mostra a memória dinâmica e não como algo guardado em uma “caixa secreta”, em um baú, como costumamos dizer e que, em algum momento, é resgatada. Acredito que a memória é trabalho, como diz Ecléa Bosi (1999) e é imaginação, como mostram os narradores de Javé. Memória: lembrança e esquecimento; memória: trabalho de criação em função do presente.
Para Gagnebin (1999),
A lembrança do passado não mede, como em Proust, a distância entre a imagem ideal e a realidade decepcionante, uma distância que somente a obra de arte conseguiria abolir. A lembrança do passado desperta no presente o eco de um futuro perdido do qual a ação política deve, hoje, dar conta. Certamente, o passado já se foi e, por isso, não pode ser reencontrado “fora do tempo”, numa beleza ideal que a arte teria por tarefa traduzir; mas ele permanece definitivamente estanque, irremediavelmente dobrado sobre si mesmo; depende da ação presente penetrar sua opacidade e retomar o fio de uma história que havia se exaurido. Exatamente como o passado é atravessado pelos signos “que o futuro esqueceu na nossa casa”, assim também o sujeito desta história sempre é, ao mesmo tempo, a criança perdida, o adulto preocupado de hoje e o desconhecido de amanhã (p. 89).
 
           
O filme Narradores de Javé abre esta possibilidade de pensamento. Eles dependem de uma lembrança de um passado idealizado como possibilidade de garantir