Revista Rua


In-(cor)porar palavras
Incorporate words

Vivian Marina Redi Pontin

Introdução
In-(cor)porar tecnociências foi uma apresentação realizada no evento: O que pode um cotidiano que divaga ao fabular? Com-fabulação... Ex-pressão...[1], e que agora entoa esta escrita que mistura impressões, confabulações, expressões sobre o filme Narradores de Javé de Eliane Caffé (2003) e a filosofia pós-estruturalista de Gilles Deleuze[2].
O que se capturou de Narradores de Javé foi a ideia de que a ciência possui uma verdade que não pode ser refutada, um status dito científico capaz de impor tal verdade e que poderia até salvar uma comunidade de ser inundada pelas águas de uma barragem.
Com relação à narrativa, o filme possui o que se pode considerar como três camadas: a primeira com a narração de uma história, revivida autobiograficamente pela personagem Zaqueu (interpretada por Nelson Xavier), contada a um grupo de pessoas que desfrutam de uma conversa informal à beira do rio, um passatempo; a segunda é a história que esse personagem viveu, a do povo de Javé no momento em que o povoado seria inundado devido a construção de uma barragem, e sua existência e permanência dependia da colocação no papel da terceira camada, que era a história que contaria a fundação do povo de Javé, narrada pelos seus moradores atuais e, ironicamente, interpretada por eles mesmos.
Nesta terceira camada, os vieses das histórias narradas e vividas complementam-se ao invés de excluírem-se, como queriam as personagens-narradoras, que provocam uma tensão durante a narração, não colocando à prova a veracidade dos fatos, mas a melhor maneira de contá-los. Há uma suposta força da narrativa científica, enaltecida pelos moradores daquele vilarejo, que deveria transformar-se num dossiê-salvação, caso a personagem de Antônio Biá (José Dumont) escrevesse a história desse povo, descrevesse os detalhes dos momentos narrados de suas origens. Um povo que almeja


[1] Realizado na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) entre os dias 2 e 4 de setembro de 2010. Realização: Uefs e Labjor/FE/Unicamp. Apoio: Fapesb/CNPq/MCT/Capes e Programa de Pós Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC-Labjor-IEL-Unicamp). Promoção: Grupo de Pesquisa multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e educações (CNPq) e projetos: “Escritas, imagens e ciências em ritmos de fabul-ação: o que pode a divulg-ação científica?” (MCT/CNPq nº 478004/2009-5), desenvolvido pelo Labjor-FE/Unicamp e Uefs; e “Olhares cotidianos da certificação Turismo CO2 neutro: logos e grafias de uma transformação na APA Itacaré/Serra Grande/BA” (Fapesb), envolvendo a Uefs, Uesc, F.E. e Labjor da Unicamp e UdG (Universidade de Girona).
[2] Escrita que também entoou a pesquisa-dissertação de mestrado Corpos e divulg(ações): ciência, cultura e representações entre texturas (2011), a qual, baseada nos Estudos Culturais, explorou as representações do corpo na divulgação científica e cultural pelas imagens e discursos. Na dissertação, a conversa com o filme Narradores de Javé não foi realizada.