Revista Rua


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Vivian Marina Redi Pontin

secar, o efeito pode ter levado anos para ser alcançado. Os cientistas também suspeitam que o artista aplicou o esmalte diretamente com as mãos, já que não há marcas de pincel na pintura. Os cientistas usaram uma técnica conhecida como espectrometria por raios “x” fluorescentes, que permitiu o estudo sem a retirada de amostras que poderiam estragar a obra (Cientistas afirmam ter descoberto o segredo do sorriso da Mona Lisa... por: Redação Nova Brasil FM – notícia do dia 24 de agosto de 2010).
 
            A ciência almeja ser capaz de desvendar o segredo de um sorriso, cria técnicas e tecnologias, rearranja métodos, quer entrar no Da Vinci para saber o que ele queria, o que estava pensando, como a sua pintura poderia sorrir e não sorrir ao mesmo tempo. Em outras pesquisas em torno da Mona Lisa, os cientistas criam hipóteses de que era um auto-retrato, querem até reconstituir o corpo do pintor, em especial seu crânio para comprovar tal hipótese, querem saber da capacidade de sair do claro para o escuro tão sutilmente, presença ou não de pêlos, posição das mãos, postura, se ela era aristocrata, burguesa, camponesa, enfim, dissecar cada detalhe, cada pincelada, cada parte do corpo de ambos – Mona Lisa e Leonardo.
            Não há limites para o desvelamento, pontos finais e reticências alternando-se a todo instante. A obra de arte parece escapar a essa insistência numa procura, numa origem. O “somente” a ciência produz a verdade, mesmo que ela seja momentânea, que noutro dia aquilo mude e passe a ser apenas uma página virada, legitima o desvendar sorrisos.
            A fidelidade entre a ciência e a verdade quer dar conta de persuadir a sociedade. Lidar com a verdade, escravizar-se pela busca da verdade, uma não permissividade da dúvida e da ambiguidade. Obsessão. A verdade gruda-se no bem. Fugir a ela é como querer o vazio e aventurar-se em águas turvas.
            A Mona Lisa, quando estudada pela ciência, torna-se uma personagem-arte (sujeito), que possui uma identidade de ver e ser vista e a ciência uma câmera que olha para essa personagem, às vezes por intermédio de uma espectrometria de raios X, e quer descobrir, insistir, in-corporar a verdade por trás de seu sorriso, ocultando e mostrando, paradoxalmente, que aquilo é apenas uma figura, uma pintura, uma ficção. Mas, seria um corpo?
A “Mona lisa” é meu forte. Posso pintá-la em três ou quatro dias, óleo sobre tela, trabalhando mais de oito horas por dia. Meu preço depende sempre das horas trabalhadas, da familiaridade com o tema que me pedem e das dimensões da tela. Posso lhe vender uma boa mona lisa por 800 yens [R$ 215]. (…) Esta [mona lisa] eu fiz depressa, é para um cliente que queria gastar o mínimo. A qualidade é proporcional ao