Revista Rua


In-(cor)porar palavras
Incorporate words

Vivian Marina Redi Pontin

tempo que o senhor me concede. Por exemplo, se devo terminar em poucos dias, a mona lisa fica com a pele mais escura. Se o senhor me pagar mais, lhe faço uma bela pele, branquíssima, como uma verdadeira rainha. (XIANGJUN apud ANDRADE, 2006, p. LXXIII)[4].
           
            Mona lisas multiplicadas, copiadas, reinventadas, ora uma indiscernibilidade, ora uma exaltação da original frente às cópias. Se há uma verdade por trás do seu sorriso, será que as cópias conseguem in-corporá-lo? Será que as cópias proliferam possibilidades e abrem brechas para que a busca pela verdade seja suspensa?       “(…) contrariamente à forma do verdadeiro que é unificante e tende à identificação de uma personagem (sua descoberta ou simplesmente sua coerência), a potência do falso não é separável de uma irredutível multiplicidade. 'Eu é outro' substitui 'Eu=Eu'” (DELEUZE, 1990, p. 163), tal potência perpetua as metamorfoses desta falsária (a cópia Mona lisa). Falsa lisa a escorregar pelos ditames do corpo da verdade através da ciência.
            Descobrir o sorriso verdadeiro pode ser também fingi-lo em suas cópias, tornando-as tão ficcionais quanto essa ficção forjada de verdade da ciência. Mona lisa – personagem que se torna ainda mais real pelas suas invenções (DELEUZE, 1990).
            Buscar a fissura entre a ciência e a arte sem que haja hierarquias entre uma e outra, mas emergências de palavras, aberturas, versões, imagens, narrativas, mona lisas...



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                Figura – Mona lisa[5]


[4] Fala de Chen Xiangjun, pintor de Dafen, sul da China, citada por Andrade.
[5] Imagem disponível em: <http://plataformasuperior.com/imagens_animadas/monalisa/mona_lisa.htm>. Acesso em 30 de agosto de 2010.