Revista Rua


In-(cor)porar palavras
Incorporate words

Vivian Marina Redi Pontin

pressão de ser verídica, de ser científica, de ser a melhor versão, a história mais bem contada para salvar Javé é que impossibilitou essa escrita?
            Essas (im)possibilidades fazem parte deste texto, que busca espalhá-las, descolando o absoluto que ronda a verdade e a ciência (e quase que por “osmose”, a tecnologia), fazendo funcionar os modos de como o pensamento e as narrações podem ser percorridos, retirando-lhes o sentido obrigatóriodo percurso. Ater-se ao cotidianar prolifera o que pode ser, existir, acontecer, faz versar atravessamentos do pensar os caminhos.
            In-cor-porar – (in)trojetando o que atravessa ao navegar pelas narrativas do povo, da vida, do corpo – dando (cor) aos mares que invadem casas, povoados, órgãos – abrindo poros (porar) nas certezas.
            Ao escolher o viés da ciência-verdade para percorrer Narradores e Javés, uma notícia de rádio chama a atenção, a manchete era de que o sorriso da Mona lisa foi, finalmente, desvendado.
            Num primeiro esmiuçar, com o sorriso desvendado da Mona lisa original (isso precisa ser ressaltado, afinal não foi qualquer sorriso), suscita-se a escolha pela interface/confluência entre a ciência e a arte com Leonardo Da Vinci e suas várias profissões-atribuições e a provocação de que uma narrativa científica seria capaz de desvendar um sorriso, afinal a ciência é a detentora da verdade. Tecnologias que são utilizadas e incorporadas à ciência e ao corpo, na interface entre tecnociência e arte, valendo-se de elementos dessas narrativas científicas (recheadas de métodos e pesquisas). Encontro-escrita como possibilidade de recriar, estilizar, modificar, customizar Mona lisas cópias, caóticas que fogem à verdade da verdadeira...
 
… Mona lisando
 
            Numa notícia de rádio:
Estudiosos franceses descobriram como Leonardo da Vinci criou o efeito de mistério do sorriso mais famoso do mundo. Segundo os profissionais do Centro de Pesquisa e Restauração de Museus da França, tudo se deve ao efeito esfumaçado denominado “sfumato” [produção de gradações delicadas de tons ou cores pela tela] desenvolvido por Da Vinci. Na técnica ele chegava a aplicar até quarenta camadas de esmalte “glaze” sobre a tela. Misturado a outros pigmentos, o esmalte cria leves borrões e sombras nos lábios de Mona Lisa, fazendo com que seu sorriso quase imperceptível pareça desaparecer ao ser encarado de frente. Como o esmalte demora para