a posição discursiva religiosa materializada nesta. Formulações unem-se a outras formulações. O efeito metafórico aponta para a identificação de Nhá Chica com a religiosidade, sua identificação com o sagrado através dos objetos que relacionam sentidos.
Considerações Finais
Interpretar a fotografia é um mister difuso, um desafio, interpretar o não-verbal sem correr o risco de não praticar a teoria e o método discursivo em que as imagens – ou o não-verbal, em geral – têm seu dispositivo analítico próprio de interpretação. Nesse caso é um desafio quanto ao método também uma vez que falamos de um lugar assumidamente marcado.
Em nosso material de análise, percebemos a marca da figura de Nhá Chica, pois o discurso não-verbal, a fotografia de Nhá Chica, não é somente um documento, a fotografia de Nhá Chica é discurso.
A fotografia da beata demonstra a ação do tempo. O passado. Ao mesmo tempo engendra a força da crença que se perpetua na modernidade.
Uma fotografia antiga, que na modernidade ressoa a religiosidade em busca de uma aceitação oficial: a canonização. A fotografia da beata já é um cânone para os devotos de Nhá Chica. A fotografia de Nhá Chica funciona como um possível suporte da fé.
A fotografia de Nhá Chica não se caracteriza pela presença de elementos comuns ao universo santificado. Não vemos céu, nem presenças bestificadas como acontece em fotografias retratadas acerca dos santos, mesmo os do povo. Nem lança, nem braços abertos ou muito menos se distanciando do imaginário medieval.
A fotografia irrompe como um acontecimento do significante entre o gesto fotográfico e o gesto interpretativo. Os detalhes de uma fotografia dizem respeito a um recorte da realidade do sujeito, abrindo espaço para a contradição, já que retrata a religiosidade e a realidade e não a reduzindo a um instantâneo do fotógrafo que fugiria ao olhar do fotógrafo.
Os sentidos na figura fotográfica de Nhá Chica deslocam-se como resultado de uma relação parafrástica no jogo da metáfora, não como figura de linguagem, ou marca de estilo poético, como se pensa na literatura, mas como Michel Pêcheux, em Semântica e Discurso (1988), a concebe a partir de Lacan: uma palavra por outra. Pois, para
