Revista Rua


Deslizamento de sentidos por efeito metafórico: o discurso de uma fotografia
Displacement of sense done by a metaphoric effect: the discourse of a photograph

Luciana Leão Brasil

Podemos pensar, também, na sombrinha enquanto cetro, símbolo de autoridade, de poder, de governo, de direção sobre seus discípulos, sobre seu povo, e indo além temos um sentido “mágico” no tipo de Nhá Chica, pois conforme estudos anteriores sobre essa figura, averiguamos que há marcas de que Nhá Chica operou curas e fez profecias.
A sombrinha, enquanto báculo, traz um sentido que remete Nhá Chica a seu contato estreito com a Igreja Baependiana. O báculo serve para reunir fiéis, para defendê-los de ameaças. Este sentido é posto em suspenso, pois somente ordenados podem portá-lo, mas o efeito metafórico pode “autorizar” uma possibilidade, uma marca simbólica do sujeito. Com sua sombrinha, Nhá Chica desloca-se pela ambiência da cidade.
A fotografia de Nhá Chica revela o dualismo do escuro. Este que indica ausência de luminosidade, um único tom, mas por se tratar de uma figura cultuada como santa o sentido desliza.
Ao observamos analiticamente a figura do não-verbal divisamos nesta a claridade na sombra, como se percebêssemos a transparência na opacidade do escuro.
A produção do não-verbal, na fotografia, envolve um fazer em que uma composição e uma perspectiva relacionam sentidos. Coloca-se assim, no espaço destinado à fotografia, o congelamento de uma possibilidade. Anexa-se o que compõe ao como compõe. O que a fotografia capta é um recorte do tempo de uma realidade dada para a sua não-verbalização, onde naquele instante o momento é único.
Os componentes da fotografia, rosto, objetos, vestes, espaço sagrado, mostram que os sentidos dessa circunstância produzida imageticamente estão inscritos na história e assim significam. Segurar o tempo em uma fotografia e depois deixá-lo fluir no descongelamento indica a construção discursiva dos referentes que estão na imagem.
Os mesmos não estão circunscritos a uma ocasião, como uma evidência ideológica de quem clica. Há formações imaginárias em ocorrência. O não-verbal, a exemplo do verbal, funciona com um caráter fortemente ideológico, como diz Orlandi.
A compreensão polissêmica estende-se também para o não-verbal. As direções multifocalizadas para analisar a fotografia prendem-se em discursividades anteriores na produção de seus sentidos. Dessa forma, a memória discursiva ativa efeitos de sentido para que o não-verbal seja significado enquanto discurso, onde o não-verbal integra a memória discursiva, mostrando a historicidade do sentido.
 Percebemos através do efeito metafórico produzidona fotografia de Francisca de Paula de Jesus Isabel o sentido de sua figura mística. A família parafrástica explicita