Revista Rua


Deslizamento de sentidos por efeito metafórico: o discurso de uma fotografia
Displacement of sense done by a metaphoric effect: the discourse of a photograph

Luciana Leão Brasil

Há um ponto pacífico em relação à mitificação entre verbal e não-verbal em campos diversos de estudo: o sentido literal tanto de um como de outro. As mesmas visadas ilusórias de sentidos do mito da transparência são transportadas do verbal para o não-verbal. Esse fato aparece nas concepções dos menos avisados e, de acordo com essas concepções, o verbal subordina o não-verbal. De que maneira? Demonstrando, por exemplo, que só há sentido no linguístico.
O estudo de distintas materialidades significantes, nos departamentos de estudos linguísticos dos Institutos de Letras de nosso território, tem produzido, com pesquisas bastante consistentes da análise de discurso, trabalhos largamente representativos para a análise do não-verbal. Nossa linha de pesquisa vale-se do termo composto, “não-verbal”, para assegurá-lo cada vez mais como parte integrante dos estudos discursivos. Isto posto vale ressaltar que o objeto da análise de discurso é o discurso. Mas surge então, e isso é frutífero para qualquer teoria de respeito, a consideração a outras materialidades de estudo que não as verbais. Foi o que pensamos ao nos depararmos com a fotografia de Francisca de Paula de Jesus Isabel, a Nhá Chica.
A análise de discurso, ao considerar as distintas materialidades significantes, não as estigmatiza, mas, muito pelo contrário, delimita suas especificidades ao compreender os seus mais diferentes funcionamentos:
 
Há uma necessidade do sentido, em sua materialidade, que só significa, por exemplo, na música, ou na pintura etc. Não se é pintor, músico, literato, indiferentemente. São diferentes relações com os sentidos que se instalam. São diferentes posições do sujeito, são diferentes sentidos que se produzem. (ORLANDI, 1995, p.39)
 
            A citação acima é de um artigo publicado na Revista Rua, Efeitos do verbal sobre o não-verbal. Nele, Eni Orlandi nos fala dos paradigmas que colocam o verbal como precedente ao não-verbal. Isso então sustenta mitos como a linguagem como transmissão de informação/comunicação, ou seja, a linguagem enquanto sociabilidade; a autoridade da ciência e a soberania da interpretação verbal.
Segundo a autora, o não-verbal tem uma “consistência significativa”, o sentido tem uma matéria própria (1995, p.39) e tal propriedade faz toda diferença na análise. O sentido necessita de uma matéria própria para significar. Não há como as diferentes materialidades significantes produzirem os mesmos efeitos. Pois cada materialidade significa de uma maneira que lhe é peculiar. Há determinações da materialidade