Revista Rua


Deslizamento de sentidos por efeito metafórico: o discurso de uma fotografia
Displacement of sense done by a metaphoric effect: the discourse of a photograph

Luciana Leão Brasil

simbólica. Não é uma questão de “tradução” para o verbal, pois, segundo Orlandi, “as várias linguagens são uma necessidade histórica” (1995, p.40).
 O estudo dessa linguagem possibilita o convívio com dispositivos teóricos das mais distintas áreas. Surgindo com essa aliança, deslocamentos, novas significações, e críticas, por que não? Conversas teóricas em diferentes patamares, terrenos moventes da criticidade que envolvem toda teoria, o inerente ao caminhar dos campos de estudos que não se intitulam ultrapassados, que se desterritorializam. Aliás, ultrapassar, passar à frente, ir além.
            Segundo Tânia Clemente de Souza (2001), o estudo do não-verbal como uma mera “descrição formal”, nas palavras da autora, acaba por não considerar a materialidade significativa da imagem em um universo discursivo, pois seus usos são ignorados, bem como seus gestos de interpretação, ocorre o silenciamento destes e sua historicidade é apagada. Isso acontece ao se proceder a um trabalho de segmentação da imagem. O verbal diz a imagem, mas não desvenda sua matéria visual.
Souza afirma que a palavra não se configura em uma relação intercambiável com o não-verbal, já que é a visibilidade que autoriza a forma material do não-verbal e não sua relação mútua com o verbal, uma vez que estes, isentos de uma correlação, não desconsideram a leitura da imagem. Pois, segundo a autora, a representatividade, assegurada pela referencialidade, garante a possibilidade de leitura da imagem e ratifica a sua condição de linguagem[4]. Ao se interpretar a imagem de uma posição-sujeito[5] constituída toma-se a sua matéria significante. Advêm desses gestos de interpretação o engendrar de outras imagens, sinalizando para a incompletude constitutiva tanto da linguagem verbal quanto da não-verbal:
 
O caráter de incompletude da imagem aponta, dentre outras coisas, a sua recursividade. Quando se recorta pelo olhar um dos elementos constitutivos de uma imagem produz-se outra imagem, outro texto, sucessivamente e de forma plenamente infinita. Movimento totalmente inverso ao que ocorre com a linguagem verbal: quanto mais se segmenta a língua, menos ela significa. Daí, não fazer sentido, numa abordagem discursiva, pensar a imagem, circunscrita numa moldura, como um todo coerente. Nem tampouco pensá-la


[4] Considerações presentes no artigo de SOUZA, T. C. A análise do não-verbal e os usos da imagem nos meio de comunicação, Ciberlegenda, Número 6, 2001.
[5] O sujeito do discurso traz para a cena um grupo de representações e impressões pessoais a respeito de si mesmo, de outrem (interlocutor) e do tema abordado. A posição-sujeito resulta da projeção da sua situação no discurso através de formações imaginárias e é assim que ocupa seu espaço no processo discursivo. O sujeito não é uno, mas se constitui em posições-sujeito, diferentes conforme as formações discursivas em que o sujeito se inscreve. Faz parte do descentramento do sujeito falar-se em posições-sujeito.