Revista Rua


Hoje tem marmelada ... pelo debate sobre a medicalização da infância e da educação no Brasil
Today has marmalade ... The debate over medicalization of children and education in Brazil

Renata Chrystina Bianchi de Barros

 

fundante para a importância que se dá àquilo que é realizado pelo homem. A escrita é o que marca e o que gere a confiabilidade às ações, inclusive para a oralidade – quanto mais próximo da norma/forma literária, mais confiável será – já que isso revela (imaginariamente) um percurso de estudos, de diversificadas e importantes vivências culturais letradas pelas quais passou esse homem “preparado para as mudanças do novo milênio”.
Ao contrário, aquele que se apresenta do outro lado, que possui pouca fluência em um ou outro campo de conhecimento, ou ainda mais aprofundadamente, para aquele sujeito que foi furtado no seu direito de participar do ensino institucionalizado – a escola – resta ficar à margem. Essas relações promovem grandes mudanças no homem moderno em relação a sua subjetivação: agora ele é aquele que precisa estar estruturado em função de uma determinada forma para ser considerado.
Há uma configuração que exclui, cada vez mais, aqueles que já estavam postos na marginalidade. O sujeito que escreve e fala diferente da forma que circula nas universidades e nos grandes centros urbanos, a Pessoa com dificuldade de aprendizagem, a Pessoa surda, a Pessoa que gagueja, a Pessoa não letrada ou não alfabetizada fica exposta às propostas de medicalização do sujeito e da educação e sobre essa demanda, emergem e crescem as práticas médicas e terapêuticas no interior da escola.
A existência e manutenção de processos de medicalização do sujeito sinalizam para a necessidade de compreensão do funcionamento da sociedade capitalista e excludente existente hoje, assim como para repensar a noção de sujeito existente no interior de cada uma. Enquanto diferentes profissões (e seus profissionais), que se propõem para o acompanhamento desse sujeito, continuarem visualizando somente o que é da superfície dessas especificidades individuais, apenas terão como objetivo final moldar o sujeito e prepará-lo para a coletividade, conforme institucionalização já prevista.
A compreensão do funcionamento ideológico da sociedade e da importância da escrita para o sujeito – e não apenas para a sociedade capitalista – possibilita que a práxis pedagógica na escola seja voltada para processos reflexivos e de subjetivação e, a partir de então, possam ser elaboradas ações que resultem em processos de ensino e de aprendizagem reais de experimentação da estrutura linguística.